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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

06 Jun, 2020

O polvo global

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Pippo Russo é um jornalista e sociólogo italiano que publicou o livro "A Orgia do Poder" com o sub-título bastante sugestivo "Jorge Mendes, o patrão do futebol global" , onde afirma que Jorge Mendes funciona como "um polvo global" no mundo do futebol (clicar sobre a foto para ler sobre a apresentação do livro em Portugal).

Na entrevista desta semana à revista Sábado, quando lhe foi perguntado sobre a relação existente, em Portugal, entre os mundos do futebol, da política e da justiça, tendo em conta o facto de o Benfica ter sido acusado recentemente de dar bilhetes e prendas a juízes e políticos, respondeu aquilo que é óbvio para qualquer pessoa lúcida que conhece o futebol europeu e o futebol português:

"Há muito que eu penso que, em Portugal, o futebol é político de uma maneira particular: não é dirigido pela política e pelos políticos, mas é impulsionador da política. O futebol em Portugal é um sistema intocável. Ainda não sou capaz de decidir se o futebol português é um enclave soberano no Estado português, ou se é o Estado português que é um enclave soberano no mundo do futebol português."

No entanto, ao contrário de Pippo Russo, eu já não tenho qualquer dúvida de que é o Estado português que é um enclave dentro do Estado soberano do futebol portugês.

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A forma como este cidadão foi tratado e morto no SEF do aeroporto de Lisboa foi muito mais bárbara, cruel, ultrajante e degradante do que a morte de George Floyd, em Minneapolis.

Além disso, envolveu a cumplicidade de muito mais gente e com mais responsabilidade do que os quatro polícias americanos.

Basta ler a notícia (clicar sobre a foto para ler a notícia): "O cidadão ucraniano que morreu no SEF do aeroporto esteve 15 horas manietado com fita-cola e algemas. Foi visto assim por enfermeiros, inspectores, chefes. Ficou numa sala, preso, durante horas, com calças pelos joelhos e cheiro a urina. Médico que passou óbito não viu agressões e deu-a como morte natural. Auto de óbito do SEF também não refere qualquer lesão." 

No entanto, enquanto o povo americano se sublevou e indignou com a forma como Gerge Floyd foi morto, o povo português, à boa maneira portuguesa e como é costume, indigna-se mais com aquilo que se passa na casa dos outros do que com o que se passa na sua própria casa, o que diz muito sobre o carácter, a ética e os valores defendidos e praticados em Portugal.

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O caso Maddie devia, pelo menos, fazer reflectir os idiotas que clamam por justiça popular e promovem autênticos linchamentos nas redes sociais, ao sabor das notícias sensacionalistas que vão sendo publicadas nos jornais, com o único objectivo de despertar a besta que existe dentro de cada um de nós.

Os pais de Maddie foram linchados na praça pública pela nossa comunicação social e nas redes sociais, sem a mínima consideração pela sua dor, para agora, 13 anos depois, chegarem à conclusão de que afinal podem estar inocentes e que o homicida afinal pode ser outra pessoa (clicar sobre a foto para ler a notícia).

Já vai sendo tempo de os portugueses demonstrarem um minimo de inteligência para não confiarem cegamente nem na nossa justiça, nem no que se diz na comunicação social, nem na própria ciência, porque mesmo aquilo que parece mais evidente nem sempre é verdadeiro.

Quanto aos casos judiciais, pode haver histórias bem e mal contadas, mas, não nos iludamos, são sempre histórias, com muita coisa de ficcional, incluindo as sentenças, que nunca reproduzem com fidelidade aquilo que se passou. E a maior parte das vezes, as histórias mais verosímeis são precisamente aquelas que mais se afastam daquilo que efectivamente se passou. 

Daí o conselho de Karl Popper, "é sempre preferível errar do lado da indulgência do que do lado da crueldade."

Uma nota final para todos aqueles que são sempre rápidos a agarrar na primeira pedra para apedrejar os outros:

Não há pais perfeitos e todos nós, eu inclusive, se fizermos a retrospectiva à nossa vida, encontramos momentos em que colocámos em risco a vida dos nossos filhos e podíamos ter sido responsabilizados pela sua morte, designadamente quando conduzimos em excesso de velocidade ou sem colocar a criança na cadeira com o cinto de segurança, quando fizemos um ultrapassagem arriscada ou quando nos distraímos a falar com uma pessoa amiga e mal nos descuidamos o nosso filho está onde não devia estar.

E nem sempre a pessoa mais cuidadosa é a que tem mais sorte na vida. A uns basta cometer um pequeno erro para lhes acontecer uma desgraça, enquanto outros cometem erros em série e não lhes acontece nada.

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Como mais uma vez ficou demonstrado, continua a dar frutos a pareceria estratégica entre o Governo, a FPF, a Liga, os três clubes portugueses e a comunicação social nacional, para afirmar a liga portuguesa no panorama internacional (clicar sobre a foto para ler a notícia).

Este já é o terceiro incidente com feridos na região de Lisboa, após a célebre reunião em São Bento, o que demonstra o sucesso da calendarização das manifestações de hooliganismo aprovada nesta reunião.

Como disse Sua Excelência o Senhor Presidente da República, o Senhor Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, os portugueses, até no futebol, são especiais e os melhores dos melhores, sobretudo naquilo que o futebol tem de pior: o hooliganismo, a ganância, a batota, o ganhar sem olhar a meios, a falta de fair play e de respeito pelos adversários.

Como diz o povo, "quem não tem cão caça com gato". E já que, a nível de clubes, temos a única liga da Europa em que não há ninguém no mundo que esteja interessado em ver, excepto alguns tontinhos portugueses, não há outro caminho para tornar a nossa liga conhecida a nível internacional.

Posso confirmar que, no próximo domingo, o comentador Marques Mendes vai revelar, em primeira mão, a aprovação pelo Governo da centralização dos direitos televisivos de todas as manifestações de hooliganismo perpetradas pelas diferentes claques dos clubes portugueses, designadamente daquelas que não existem, com vista à sua comercialização em todo o mundo, designadamente numa Europa carente de países com instituições que promovam e defendam a cultura do hooliganismo.

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Das muitas centenas de livros que li em toda a minha vida, este foi o livro que mais me incomodou.

O conhecido programa "Big Brother" foi buscar o nome e a sua inspiração precisamente neste livro, se bem que a história do livro não tenha absolutamente nada a ver com este programa fútil e idiota.

E, se houve um tempo em que acreditei que estaria livre de vir a viver no mundo ficcional de 1984, neste momento não só já não tenho tanta certeza disso como vejo cada vez mais gente, designadamente nas redes sociais e nos cafés, a defender  modelos de governação deste tipo e que os chineses já estão a implantar na China. 

É um livro que vale a pena ler e que devia ser de leitura obrigatória em todas as escolas portuguesas, porque mais vale incomodar-nos a sua leitura do que termos de viver uma experiência idêntica da qual não há saída.

E é precisamente isso o que mais incomoda!

Santana-Maia Leonardo

 

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Muitos de nós já se terão questionado: será que o poder transforma as pessoas, alterando-lhes a personalidade, ou será que aqueles que chegam ao poder já apresentam traços ou características de doença psiquiátrica? (…)

Em 2009, num artigo publicado na prestigiada revista Brain, David Owen, médico e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, juntamente com o psiquiatra Jonathan Davidson, defenderam a existência de uma doença psiquiátrica, originada pelo exercício do poder, designada por "síndrome da presunção" (Hubris syndrome). Segundo estes autores, esta síndrome, que partilha elementos com o narcisismo e a psicopatia, corresponde a um padrão de comportamento provocado pela exposição a um cargo de poder por um período variável de um a nove anos. Os sintomas identificados são vários: perda de contacto com a realidade, predisposição para ver o mundo como um lugar para a auto-glorificação através do uso do poder, preocupação exagerada com a imagem e a apresentação, forma messiânica de falar acerca do que estão a fazer, utilização recorrente do "nós" em tom majestático, identificação de si próprios (ideias e pensamentos) com o Estado, como se fossem um só, excesso de autoconfiança com desdém perante os conselhos ou críticas dos outros, assumir apenas responsabilidade para um tribunal superior (história ou Deus), ao mesmo tempo que reitera a crença de que será recompensado nesse julgamento. (…)

A intoxicação pelo poder é um caminho que nem todos os indivíduos têm capacidade para neutralizar. (…)

Tal como nas psicoses, os afectados pela síndrome da presunção não reconhecem "estar doentes", já que para eles isso é um sinal de fraqueza. Ou seja, raramente se demitem, devendo por isso serem demitidos. Para bem da sociedade e dos governantes afectados, os médicos que descreveram esta síndrome afirmam que ela tem cura, já que é propensa a desaparecer com o afastamento do poder. (…)

Pedro Afonso - Público de 16-5-2013

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