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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Que o 25 de Abril ainda não chegou ao futebol é uma evidência tão óbvia que nem o fanático mais cego se atreve a contestar. Tal como antes do 25 de Abril, os três grandes (os azuis das Antes substituíram os azuis de Belém) controlam os órgãos sociais da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga, as receitas do futebol, os jogadores, os jornais desportivos e o comentário desportivo.

Portugal continua a ser o único país da UE onde não existe centralização dos direitos televisivos, nem limitação da inscrição dos jogadores. Os três grandes continuam a apropriar-se do grosso das receitas e dos jogadores, reduzindo os restantes clubes à indigência e obrigando-os à satelização e subserviência para poderem sobreviver e disputar a liga. Além disso, os clubes pequenos (pasme-se!) não têm sequer direito ao contraditório no comentário desportivo em que se discutem os jogos em que intervêm!!!...

O Benfica, inclusive, numa manifestação ostensiva de prepotência, arrogância e despotismo, transmite os seus jogos na televisão do clube, o que não é permitido em mais nenhum país da Europa e do mundo, obrigando os adeptos dos outros clubes e o VAR da Cidade de Futebol a ter de gramar as imagens, a propaganda e os comentários dos funcionários contratados e pagos pelo Benfica. E é para quem quer.

Ora, sendo Adão e Silva comentador do Benfica num país onde o 25 de Abril ainda não chegou ao futebol, tal deveria ser suficiente para considerar que não tem condições para ser presidente das comemorações dos cinquenta anos do 25 de Abril, entendendo-se o 25 de Abril como o marco simbólico da ruptura com a ditadura fascista e o advento da democracia liberal.

Com efeito, quem aceita ser comentador futebolístico num país onde o futebol continua a viver à margem da revolução do 25 de Abril, designadamente no comentário desportivo, numa clara violação dos mais elementares direitos ao contraditório e das minorias, não pode arvorar-se depois em democrata e amplo defensor das liberdades. Quem acredita nos valores da democracia liberal tem de os praticar em todo lado. E o futebol português é precisamente um bom campo para testar a fidelidade de cada um aos valores do 25 de Abril: liberdade, igualdade e solidariedade. Até porque não é possível existir uma democracia saudável sem uma verdadeira cultura desportiva de fair play, respeito pelos outros e pela igualdade de armas na disputa de uma competição.

A não ser que as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril visem não comemorar a pureza dos ideais de Abril, mas essa coisa pantanosa, viscosa, sul-americana e corrupta em que a democracia portuguesa se transformou. Se for esse o caso, Adão e Silva é certamente uma boa escolha, até porque faz o pleno dessa cultura tão salazarenta de ser do que ganha. Ou seja, do SLB. Socialista, Lisboeta e Benfiquista.

E a forma como Adão e Silva foi escolhido, pelo Governo, sem passar cartucho nem aos partidos da oposição, nem à Casa da Democracia (Deixa-me rir!...), é bem demonstrativo da democracia sul-americana em que vivemos. Com efeito, é no exercício do poder que os verdadeiros democratas se revelam, porque, na oposição, até os fascistas e os comunistas reclamam mais democracia. E quem é democrata por convicção, quando exerce o poder, tem de se empenhar no reforço da independência e da imparcialidade das instituições e dos reguladores, da comunicação social, dos tribunais e da sociedade civil, mesmo sabendo que esse é o caminho que favorece a alternância democrática e põe em risco a vitória nas próximas eleições.

Mas essa é precisamente a diferença entre as democracias liberais da Europa Ocidental e as democracias corruptas sul-americanas. E parece que já ninguém tem dúvidas onde a democracia portuguesa se situa. Pelo que forçoso será concluir que Adão e Silva e o seu séquito sul-americano é a escolha perfeita para dirigir as comemorações dos 50 anos da nossa democracia. Quem destoa é o General Ramalho Eanes, o homem do outro 25 de Abril que ficou por cumprir.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 18-6-2021

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Como toda a gente sabe, o único e verdadeiro valor genuinamente civilizacional que hoje nos rege é a hipocrisia. E é precisamente em nome da hipocrisia que os (putativos) defensores dos direitos dos animais defendem o fim das touradas e dos toiros de morte. Porque se os (putativos) defensores dos direitos dos animais se preocupassem efectivamente com o sofrimento dos animais, deviam preocupar-se com os bois e não com os toiros.

Com efeito, em três ou quatro anos de vida do toiro, este apenas sofre cerca de quinze minutos, o tempo que dura a lide. O resto do tempo, não há animal que viva junto do homem que tenha vida que se lhe compare. Vive em liberdade, em estado selvagem, inteiro.

Por seu lado, a vida do boi é feita de sofrimento desde que nasce até que morre: capado, amarrado a uma manjedoira quase sem espaço para se mexer, engordado a toque de farinhas e hormonas, para morrer ao fim de seis meses num matadouro qualquer e sabe-se lá como. É uma vida triste, curta e sem o mínimo de dignidade.

Mas isso não preocupa, obviamente, os tais (putativos) defensores dos direitos dos animais. Na verdade, pouco lhes interessa que a vida do toiro seja muito mais longa, saudável e alegre do que a do boi. Porque o que, na realidade, os preocupa não é o sofrimento dos animais, designadamente, do toiro, mas (suprema hipocrisia) o facto de os verem sofrer. E como o que aparece na televisão são os quinze minutos da lide...

Além disso, o fim das touradas significaria, pura e simplesmente, o fim dos touros bravos. E tal como as reservas naturais são o garante da sobrevivência de muitas espécies animais, também as touradas são o único garante da perpetuação da raça dos toiros. Não existe um único país que seja criador de toiros em que o destino destes não seja as touradas.

É óbvio que todos aqueles que clamam pelo fim das touradas têm a perfeita consciência de que, no dia em que isso suceder, os toiros têm os dias contados. Mas a sua extinção tão pouco os preocupa. Antes pelo contrário, desejam-na ardentemente. Só que, depois, não se percebe muito bem por que razão fazem tanto alarido com a extinção de outras espécies que só conhecem da televisão. Ou seja, à boa maneira portuguesa, choram pela extinção de espécies que nunca viram, enquanto contribuem decisivamente para a extinção daquela que têm ao pé da porta.

Santana-Maia Leonardo- O Mirante de 4-6-2020

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