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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Outro dia eu estava no mercado quando vi entrando um amigo do tempo de escola, que não via há muito tempo. Feliz com o reencontro me aproximei já falando alto:

- Marcão, sua bichona! Quanto tempo!!!!
E fui com a mão estendida para cumprimentá-lo. O Marcão me reconheceu, mas antes mesmo que pudesse chegar perto dele só vi o meu braço sendo algemado.
- Você vai pra delegacia! - Disse um policial que passava no momento.
Eu sem entender nada perguntei:
- Mas o que que eu fiz?
- HOMOFOBIA! Bichona é pejorativo.

Nessa hora, antes mesmo de eu me defender, o Marcão interferiu tentando argumentar:
- Que isso policial? O quatro-olhos aí é meu antigo amigo de infância, minha tia foi professora dele e a gente se chamava assim naquela época!
E nessa hora o policial já emendou a outra ponta da algema no Marcão:
- Então você tá detido também.
Aí foi minha vez de intervir:
- Mas meu Deus, o que foi que ele fez?
- BULLYING! Te chamando de quatro olhos.

O Marcão se desesperou:
- Que isso seu policial! Nós somos amigos! Vim aqui comprar umas carnes prum churrasco com outro camarada que pode confirmar tudo!
E nessa hora eu vi o Jorginho Pé-de-pato chegando perto da gente com 2 quilos de alcatra na mão. Eu nem mencionei o Pé-de-pato pra não piorar as coisas, mas ele sem entender nada ao ver o Marcão algemado já chegou falando:
- Que porra é essa negão, que que tu aprontou aí?
E aí não teve jeito. Foram os três parar na delegacia e hoje estamos respondendo processo por HOMOFOBIA, BULLYING e RACISMO.

Moral da história:"Nos dias de hoje é um perigo encontrar velhos amigos!"

Adaptação de Getulio Reis

28 Jul, 2021

O Colégio La Salle

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Ao olhar a esta distância para a obra do Colégio La Salle de Abrantes na sua curta existência (1959-75), não posso deixar de reconhecer os seus méritos, tanto mais que aquele Colégio representa hoje o modelo utópico da escola moderna: uma escola a tempo inteiro, empenhada na formação integral do aluno.

O Colégio La Salle, recordo, tinha dois campos de futebol, vários campos de basquetebol, rinque de patinagem, piscina de 25 metros de competição, ginásio, cine-teatro, salas de estudo, um laboratório moderníssimo, capela e igreja. Estes equipamentos permitiam aos seus alunos desenvolver as suas capacidades artísticas (teatro, tuna, poesia, conjunto musical, etc.) e participar em provas distritais, nacionais e regionais em quase todas as modalidades: basquetebol, futebol, voleibol, ténis de mesa, tiro ao alvo, natação, judo, hóquei em patins, etc. Sem esquecer os grupos de solidariedade social e as viagens de estudo ao estrangeiro.

Além disso, os seus alunos obtinham sistematicamente as melhores notas do distrito de Santarém nos exames dos antigos 2º, 5º e 7º anos dos liceus, sendo esta, aliás, a sua imagem de marca.

Com o 25 de Abril, o Colégio deu lugar à escola pública. E, quarenta anos depois, toda a gente sonha com uma escola pública à imagem do antigo Colégio La Salle. E, para lá chegar, ministros e secretários de Estado alteram e legislam todos os dias, enquanto as escolas se entretêm a fazer e a desfazer, ao mesmo ritmo, os seus extensos regulamentos internos.

Querem saber quantos artigos tinha o regulamento interno do Colégio La Salle? Tinha apenas dez que passo a transcrever: 1º) O espírito lassalista deverá estar presente em tudo o que fazemos. Nunca nos devemos esquecer da nossa identidade própria. 2º) Em tudo o que fazemos, devemos cultivar a justiça, a oração e o serviço aos outros. 3º) Todas as pessoas da nossa comunidade educativa, devem respeitar-se mutuamente tornando a nossa escola um lugar ideal para trabalhar. 4º) Todos devem ajudar a criar um ambiente de inter-ajuda, propiciando uma boa aprendizagem. 5º) Todos têm direito à diferença. Os dons especiais de cada um devem ser encorajados e valorizados para o bem de todos. Devemos trabalhar e partilhar juntos. 6º) Todos têm direito à segurança. Ninguém deve ter medo de ser ameaçado ou importunado. Ninguém deve ter receio de correr riscos, de ser diferente ou de ser sincero. 7º) O auto e hetero encorajamento para a rentabilização das nossas capacidades são essenciais. A existência de uma variedade de temas e de actividades é necessária à realização pessoal. 8º) A atenção vigilante é importante para que nos momentos de crise nos sintamos confiantes a partilhar as angústias ou problemas com uma pessoa de confiança. 9º) Todos devemos saber perdoar e esquecer. Todos merecemos uma segunda oportunidade. 10º) Na nossa escola, as pessoas deverão aprender tanto com os seus êxitos como com os fracassos. Isto permite o crescimento pessoal.

Públio Cornélio Tácito, político, orador e historiador romano, bem sabia do que falava quando proclamou: "quanto mais corrupta é a República, maior é número das leis". Consequentemente, se querem uma escola empenhada na formação integral do aluno, comecem por aqui. Rasguem os regulamentos internos e os estatutos do aluno... E resumam tudo a dez artigos. Segundo me dizem, Deus é perfeito (quem sou eu para duvidar disso, apesar de não ser crente?). Ora, se a Lei de Deus tem apenas dez artigos, por alguma razão deve ser.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 17-7-2021

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Otelo, com as suas contradições, é bem o espelho de um regime com os valores de pernas para o ar.

Por um lado, amnistia-se Otelo pela prática do crime de terrorismo por ter sido o estratega do 25 de Abril, o que choca abertamente com o Estado de Direito.

Por outro, decide-se não se fazer luto nacional no dia da morte do principal responsável pelo golpe militar do 25 de Abril, o acontecimento mais marcante da história de Portugal dos últimos cem anos, por todas as razões que de tão evidentes me dispenso de enumerar.

Santana-Maia Leonardo

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Devo começar por chamar a atenção de André Ventura que se quiser instaurar em Portugal uma ditadura das pessoas de bem vai ter de recorrer à imigração em massa, porque, em Portugal, não existe, neste momento, gente suficiente para garantir sequer o funcionamento do governo...

Há por aí muita gente que acha que o problema português é do sistema e que facilmente se resolvia com a importação dos modelos estrangeiros dos sistemas de saúde, de justiça, eleitoral, etc. etc. Acontece que, tal como no futebol, mais importante do que os sistemas é a qualidade e a seriedade dos intervenientes. Ou seja, não adianta mudar de tractor se o problema é do tractorista.

Todos conhecemos a letra da canção popular açoriana: "O Vieira deu ao Costa! Ai deu ao Costa e ao Medina também deu!"

Quando o primeiro-ministro e o presidente da câmara de Lisboa estiveram, recentemente, na comissão de HONRA de Luís Filipe Vieira, depois de terem pertencido à entourage de José Sócrates, das duas uma: ou são dotados de uma estupidez tal que os impede de ver o que estava à vista de toda a gente (o que nem um estúpido acredita), ou querem fazer de nós estúpidos, convencendo-nos de que não sabiam aquilo que todos não podiam deixar de saber. Ou seja, que dois mais dois são quatro.

Mas os culpados não são Sócrates, nem Vieira, mas quem os elegeu bem sabendo o que eles eram. Até porque Sócrates e Filipe Vieira, honra lhes seja feita, nunca fizeram sequer questão de esconder o que eram e ao que vinham.

Portugal (é bom não esquecer) já viveu a experiência de copiar uma lei alemã que se revelou um verdadeiro desastre quando foi aplicada no nosso país: o adiamento de audiências de julgamento com base no atestado médico. Na Alemanha, o número de audiências de julgamento com atestado médico era praticamente inexistente, enquanto em Portugal, os juízes lembravam-se sempre de marcar os julgamentos para o dia em que os arguidos estavam doentes. Que grande pontaria!

Como é bom de ver, isto só sucedia, porque toda a gente (juízes, advogados, procuradores, médicos, testemunhas e arguidos) se conformavam com um caso manifesto de corrupção. Mas esta é a verdade nua e crua: quem quiser trabalhar em Portugal não consegue sobreviver sem pactuar com alguns níveis de corrupção que estão tão generalizados que já fazem parte do dia a dia das putativas pessoas de bem. O português comum, quando se fala nos pequenos ilícitos, desvaloriza-os sempre, contrapondo-os com a grande criminalidade, que essa é que devia ser combatida e não os pequenos ilícitos.

Recordo que, em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social que veio a ser conhecida pela Teoria das Janelas Partidas e que tanto sucesso teve no combate à criminalidade em Nova Iorque. Da experiência levada a cabo pelo Prof. Zimbardo resultou a seguinte conclusão: uma comunidade condescendente com os pequenos ilícitos é o ecossistema perfeito para o desenvolvimento e a propagação da criminalidade, designadamente, da grande criminalidade. E Portugal é, precisamente, a comprovação prática da Teoria das Janelas Partidas. 

Ao contrário do que para aí se ouve, o Chega é o sintoma de uma doença muito mais grave e contagiosa do que a COVID-19, mas não é a doença. A doença é a corrupção que se apoderou de todo o tecido social e de todas as instituições portuguesas, sendo as variantes PS e PSD as mais contagiosas e os principais veículos de transmissão do vírus.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 10-7-2021

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Faz hoje 75 anos que Salazar foi capa da revista Time juntamente com uma maçã podre que simbolizava o país.

75 anos passados, Salazar morreu e o regime mudou, mas a capa continua actual, quanto à maçã. Bastava substituir a foto de Salazar pela foto de António Costa e a capa ficava actualíssima.

22 Jul, 2021

O povo culto

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Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número:
 
-    dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; 
 
-    dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; 
 
-    dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; 
 
-    dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno. 
 
Agostinho da Silva - "Diário de Alcestes"

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Hoje é ponto assente para o homem comum que os políticos são todos uns aldrabões e que só querem tacho. Todavia também é verdade que a seriedade e a honestidade não são qualidades que os eleitores valorizem num político. Antes pelo contrário. Não é, pois, de admirar que indivíduos condenados, indiciados ou envolvidos em casos de corrupção, favorecimento pessoal ou abuso de poder continuem a ganhar categoricamente as eleições. Ou seja, a falta de honestidade dos políticos (de que os portugueses tanto se queixam) é fruto, afinal, de uma escolha consciente desses mesmos portugueses que consideram, no fundo, a falta de honestidade uma qualidade essencial para um político poder exercer condignamente o cargo para o qual foi eleito. Daí a expressão tantas vezes ouvida, relativamente a pessoas que a opinião pública tem por sérias e honestas: «o senhor é demasiado sério para ser político».

Tudo isto tem uma razão de ser. Num país onde toda a gente sobrevive à conta de cunhas, subsídios e favores, todos têm a consciência do perigo que seria serem governados por alguém que fosse sério. Lá se ia o emprego da filha, o subsídio da agremiação e a adjudicação da obra. Todos sabem na aldrabice em que vivemos. Mas poucos conseguem imaginar-se a viver num mundo diferente.

Para já não falar do estafado argumento da obra feita com que se quer justificar o voto num político menos escrupuloso. Como se, com tantos milhões de euros de fundos comunitários, alguém pudesse não ter feito nada. Neste campo, a questão deveria ser outra: saber se a obra se justifica, se está adequada aos seus destinatários e potenciais utilizadores e se é proporcional ao dinheiro que custou.

Mas qual é o eleitor que se preocupa se o dinheiro que se gastou no estádio, na rotunda ou na piscina dava para fazer três estádios, três rotundas e três piscinas? Ou com o mamarracho que lhe espetaram na rotunda à porta de casa? Para o povo, o que interessa é que o estádio, a rotunda e a piscina estão feitos. Quanto ao seu preço, ninguém se preocupa com isso. E se o político e a sua rede de amigos se abarbataram com algumas centenas de milhares de euros, pouco importa… O que interessa é que a obra está feita.

Os portugueses não percebem (ou não querem perceber) que a pobreza e a miséria resulta precisamente da forma como quem nos governa desbarata os recursos que são de todos nós. Se os portugueses valorizassem mais a seriedade na actividade política, hoje haveria menos obras faraónicas ou inúteis, menos cunhas e menos subsídios, mas viveríamos todos muito melhor e a diferença entre pobres e ricos não seria seguramente tão grande.

Infelizmente, a maioria dos nossos eleitores vende-se por uma rodela de chouriço, seja sob a forma do subsidiozinho para a sua associação, seja sob a forma do emprego para o filho ou de um penachozito qualquer, seja sob a forma do electrodoméstico e das telhas para a sua casinha, seja sob a forma do perdão da coima ou da construção do muro… Os nossos políticos fazem tão bem ao povo com o dinheiro que todos os dias lhe roubam que é de partir o coração!

Moral da história: quem se vende por uma rodela de chouriço acaba sempre por ter de pagar o porco.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 03-07-2021

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