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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Para não ofender nenhuma religião, do presépio ficou só o burro.

E do burro só a cabeça para que ninguém se sinta excluído e todos os géneros, possíveis e imaginários, se sintam representados.

30 Dez, 2021

Os Sem-Vergonha

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Se, por qualquer motivo, o leitor tem dificuldade em distinguir um cínico de um hipócrita, basta ler ou ouvir as reacções nacionais, seja na televisão, seja nas redes sociais, após a imprensa internacional ter catalogado como VERGONHA o B-SAD ter sido obrigado a jogar com 9 jogadores contra o Benfica.

O cínico atira as culpas para cima do regulamento: "o jogo realizou-se por causa do regulamento". Este é o argumento típico do cínico lusitano: "dura lex sed lex".

Por sua vez, o hipócrita afirma categoricamente (e sem se deixar rir) que “se fosse o Benfica que só tivesse 9 jogadores, o jogo realizava-se na mesma." Este é o argumento típico dos hipócritas lusitanos, copiado do livro “O Triunfo dos Porcos” de George Orwell: “em Portugal, todos os clubes são iguais” (quando todos sabemos que há uns mais iguais do que outros).

Se Portugal tivesse a mesma taxa de vacinação contra o cinismo e a hipocrisia que tem contra a covid-19, seríamos hoje um país europeu formado por cidadãos no verdadeiro sentido da palavra. Como temos uma baixa taxa de vacinação contra o cinismo e a hipocrisia, não conseguimos a imunidade de grupo, essencial para vivermos num país decente formado por uma maioria de cidadãos honestos com consciência ética e cívica. Além disso, devido à baixa taxa de vacinação contra o cinismo e a hipocrisia, já apareceu, em Portugal, uma nova variante muito mais letal e contagiosa, que corrói e destrói todas as instituições: os Sem-Vergonha.

Enquanto o cidadão honrado recorre ao exemplo virtuoso para criticar os seus, o Sem-Vergonha recorre ao exemplo abjecto para se justificar a si e aos seus. O cidadão honrado dá como exemplo ao seu filho o bom aluno e o aluno bem-comportado, enquanto o sem-vergonha justifica os maus comportamentos do seu filho com os maus exemplos dos alunos do mesmo calibre do seu filho ou piores do que ele. E isto também se verificou no caso do jogo da B-SAD. Enquanto o cidadão Bernardo Silva, sócio do Benfica, se indignava nas redes sociais com o não adiamento do jogo, os Sem-Vergonha vasculhavam nos caixotes do lixo do Sporting e do Porto à procura de qualquer coisa repugnante para servir de justificação ao injustificável.

É precisamente por esta razão que os clubes portugueses evoluíram de clubes desportivos para verdadeiras associações mafiosas. Num clube desportivo, os adeptos, se souberem que um dirigente desviou dinheiro do clube ou cometeu actos de corrupção, reagem imediatamente, obrigando-o a demitir-se e entregam-no à justiça. Por sua vez, numa associação mafiosa, os seus membros, se souberem que os seus dirigentes estão a ser investigados por corrupção e desvio de dinheiro, cerram fileiras em torno dos dirigentes e defendem-nos até à morte.

Até as palavras da língua de Camões já foram corrompidas. Em Espanha, Glorioso é o Alavés, um pequeno clube da I Liga espanhola que nunca conquistou um título. E é conhecido por Glorioso precisamente por isso. Gloriosa é a resistência heróica de Leónidas e dos 300 espartanos, no Desfiladeiro das Termópilas, perante o imenso exército de Xerxes com 300.000 homens e não a vitória do exército persa. Em Portugal, por sua vez, Glorioso é o maior clube português, com mais adeptos do que os outros todos juntos, ganhar a clubes que não têm adeptos sequer para encher uma fila do seu pequeno estádio, nem dinheiro para pagar os salários, atempadamente, aos seus jogadores e funcionários. E no caso da B-SAD, nem jogadores tinham para formar uma equipa. Em Portugal, Glória é precisamente isto: um enorme exército de milhões de fiéis esmagar um pequeno clube sem adeptos, nem jogadores.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 3-12-2021

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Há anos que somos governados pelos chamados esturrodependentes.

O que é um esturrodependente? É uma espécie de toxicodependente.

Só que, enquanto o toxicodependente rouba a família, os amigos e os vizinhos, para gastar o dinheiro em droga, os esturrodependentes roubam o país e os contribuintes, deixando-os na miséria, para esturrar o dinheiro todo em bancos e empresas falidas, como é o caso da TAP.

Santana-Maia Leonardo - A Ponte de 27-12-2021

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Na justiça portuguesa, existe hoje um brocardo lusitano, adaptado do Direito Romano, que reza assim: “Quod non est in audio non est in mundo”. Ou seja, os abusos de autoridade só existem se houver gravação que seja reproduzida nas televisões. Isto vem a propósito do que se passou em Odemira com as agressões aos imigrantes por militares da GNR. Como existe um vídeo, deixou de ser possível fingir que não se sabe, pelo que não existe outra saída a não ser tentar isolar e empolar o caso, dando-lhe contornos racistas, para que se pense que se trata de um caso absolutamente excepcional que não põe em causa a honorabilidade das instituições.

Acontece que nem o caso é excepcional como também a motivação não é racista. Existe um ditado popular que explica este tipo de comportamento que se tornou um padrão nas instituições portuguesas, seja nas forças de segurança, nos tribunais, nas autarquias, na Administração Pública, nas associações e nos clubes, etc. etc. etc.: “se queres ver um pobre soberbo, dá-lhe a chave do palheiro.

Também é verdade, como disse há muitos anos Edmund Bürke e, mais tarde, Einstein, que «o mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que o vêem fazer e deixam acontecer.» Mas, em Portugal, é necessário mais do que coragem para que aqueles que vêem impeçam que aconteça. É necessário ter vocação de bombista-suicida.

É bom não esquecer que quem tem o poder de legislar e punir é precisamente quem tem a chave do palheiro. E sem gravação vídeo ou áudio divulgada na tv, não há nada que consiga abalar o poder da palavra de quem tem a chave do palheiro e que faz sempre fé em juízo, mesmo quando salta à vista desarmada a manifesta falta de juízo. A nossa legislação penal e disciplinar é naturalmente, por um lado, extremamente dissuasora e repressiva para quem queira denunciar este tipo absolutamente execrável de comportamentos e, por outro, extremamente protectora de todos aqueles que têm a chave do palheiro.

Quem denuncia fica completamente isolado e desprotegido, até porque não há uma única testemunha que queira corroborar a denúncia. Ninguém quer depor contra quem tem a chave do palheiro. Por sua vez, quem tem a chave do palheiro consegue arranjar as testemunhas que quiser para jurarem que é mentira o que toda a gente sabe que é verdade.

Veja-se o que se passou com a morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk no SEF. Foi, por um triz, que o homem não foi enterrado como tendo morrido de morte natural. No entanto, o médico que denunciou a sua morte, foi despedido.  Bastava este médico ter assinado a certidão de óbito de cruz, como era previsível, e de certeza que ia ter menos chatices do que teve e vai ter.

Mas recordemos a descrição do que aconteceu: "O cidadão ucraniano que morreu no SEF do aeroporto esteve 15 horas manietado com fita-cola e algemas. Foi visto assim por enfermeiros, inspectores, chefes. Ficou numa sala, preso, durante horas, com calças pelos joelhos e cheiro a urina. O médico que passou o óbito não viu agressões e deu-a como morte natural. O auto de óbito do SEF também não refere qualquer lesão."

Ora, basta ler esta descrição para se concluir que não estamos perante um assassinato macabro e absolutamente excepcional, que não põe em causa a honorabilidade da instituição e do Estado português, mas perante um assassinato institucional, cometido por aqueles que têm a chave do palheiro.

No entanto, tudo isto só é possível com a conivência dos donos do palheiro, bem entendido, que só se assustam quando o caso chega às televisões. E, perante a reprodução da notícia, não têm outra alternativa a não ser encarnar o papel de Odorico Paraguaçu, pedindo um rigoroso inquérito e que a justiça seja célere e implacável, ao mesmo tempo que apelam à confiança nas nossas instituições. Ou seja, em todos aqueles que têm a chave do palheiro.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 24-12-2021

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