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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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A propósito de preparação de jovens para a vida em comum, vou-vos contar uma interessante história de Jack Griffin, publicada na revista Dirigir (n.º69) que é cada vez mais actual:

Aos seis anos de idade, Johnny ia de carro com o pai quando este foi apanhado em excesso de velocidade. O pai meteu uma nota de vinte dólares dentro da carta de condução que entregou ao polícia. "Não há problema miúdo", disse o pai. "Toda a gente faz o mesmo".

Quando tinha oito anos, assistiu a uma reunião familiar em que se estudava o modo mais eficaz de aldrabar a declaração de IRS. "Não há problema miúdo", disse o tio. "Toda a gente faz o mesmo".

Quando tinha nove anos, a mãe levou-o ao teatro. O empregado da bilheteira dizia que já não havia bilhetes, mas a mãe com mais cinco dólares resolveu a situação. "Não há problema miúdo", disse a mãe. "Toda a gente faz o mesmo".

Aos doze anos, partiu os óculos quando ia para a escola. A tia convenceu a companhia de seguros de que eles foram roubados e receberam 75 dólares. "Não há problema miúdo", disse a tia. "Toda a gente faz o mesmo".

Aos quinze anos, jogava futebol na equipa do liceu, o treinador ensinou-o a pressionar o adversário, agarrando-o pela camisola sem que ninguém visse. "Não há problema miúdo", disse o treinador. "Toda a gente faz o mesmo".

Aos dezasseis anos foi trabalhar durante o Verão num supermercado. Foi avisado pelo gerente de que tinha que pôr os morangos demasiado maduros no fundo das caixas e os melhores em cima, bem à vista. "Não há problema miúdo", disse o gerente. "Toda a gente faz o mesmo".

Aos dezanove anos foi abordado por um aluno mais adiantado que lhe ofereceu as respostas a um exame por cinquenta dólares. "Não há problema miúdo", disse-lhe o jovem colega. "Toda a gente faz o mesmo".

Johnny foi apanhado e expulso. "Como pudeste fazer uma coisa destas a mim e à tua mãe e à família?" Gritou o pai. "Cá em casa não te ensinamos essas coisas."

Santana-Maia Leonardo - A Ponte 30/5/2022

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PSD e CDS são dois partidos fundadores da democracia portuguesa e que desempenharam, durante anos, um papel fundamental na afirmação da democracia liberal portuguesa como um espaço de liberdade e diversidade.

Costumo definir-me politicamente como conservador, liberal e socialista. Conservador nos valores; liberal na economia; e socialista nas preocupações sociais. E o PSD era um partido que correspondia bem a esta minha definição. Distinguia-se do PS sobretudo por dois aspectos: o PS era menos liberal na economia do que o PSD e o PSD era menos fracturante nos valores do que o PS. Isso resultava, aliás, da base de apoio dos dois partidos. Enquanto o PSD representava, sobretudo, os pequenos e médios comerciantes, empresários, agricultores e profissionais liberais, o PS tinha as suas raízes no funcionalismo público.

Acontece que o Bloco Central e os dez anos de governação de Cavaco Silva alteraram o código genético do partido, fazendo com que fosse capturado pelos interesses instalados e se transformasse num alter ego do Partido Socialista. E o “alter” é sempre pior do que o “ego”, como todos sabemos. A partir daqui, a minha relação com o partido passou a ser conflituosa sobretudo quando estava no poder, na medida em que fazia precisamente aquilo que criticava aos socialistas, quando estava na oposição.

No entanto, o memorando da troika fez-me acreditar que PSD e CDS não iriam perder a oportunidade única de levar a cabo as reformas estruturais essenciais para tirar Portugal do fundo poço onde tinha sido enfiado pela associação de malfeitores que nos tinha governado até então. E o anúncio de Passos Coelho de que pretendia ir além da troika ainda me fez acreditar mais na vontade reformadora do Governo.

Não foi, no entanto, preciso esperar muito tempo para perceber a expressão “ir além da troika” usada por Passos Coelho não tinha nada a ver com as reformas estruturais de que o país carecia, mas com o esmifrar da classe média e das pequenas e médias empresas até à indigência e à insolvência, ao mesmo tempo que reduzia Portugal à cidade Lisboa-Porto, a sua idealizada Singapura. E, perante a desgraça e a miséria, ainda tínhamos de gramar com a cínica justificação, repetida até à exaustão, como se fôssemos todos analfabetos e estúpidos, de que “Não havia alternativa”.

Acontece que Mário Centeno, num governo socialista aliado à extrema-esquerda, demonstrou que era possível reduzir o défice a zero e criar superavit com o simples controlo da despesa pública (que era precisamente o que Passos Coelho prometeu que ia fazer, quando se candidatou), sem necessidade de reduzir brutalmente os modestos rendimentos da classe média portuguesa.  

Depois das profundas cicatrizes que deixaram com a sua desumana governação, não é possível o PSD e o CDS voltarem a merecer a confiança da classe média, nem dos pequenos e médios empresários pelo que, para bem da nossa democracia, deviam ser extintos por inutilidade superveniente.  

Santana-Maia Leonardo - Mirante de 27/5/2002

24 Mai, 2022

O Alentejano

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Num tempo em que o racismo, a xenofobia e os nacionalismos estão de volta, inclusive, em países civilizados, vou aqui recordar um texto que escrevi há 14 anos, mais precisamente no dia 8 de Abril de 2008 :   

A raça do alentejano? É, assim, a modos que atravessado. Nem é bem branco, nem preto, nem castanho, nem amarelo, nem vermelho…. E também não é bem judeu, nem bem cigano. Como é que hei-de explicar? É uma mistura disto tudo com uma pinga de azeite e uma côdea de pão.

Dos amarelos, herdámos a filosofia oriental, a paciência de chinês e aquela paz interior do tipo “não há nada que me chateie”; dos pretos, o gosto pela savana, por não fazer nada e pelos prazeres da vida; dos judeus, o humor cáustico e refinado e as anedotas curtas e autobiográficas; dos árabes, a pele curtida pelo sol do deserto e esse jeito especial de nos escarrancharmos nos camelos; dos ciganos, a esperteza de enganar os outros, convencendo-os de que são eles que nos estão a enganar a nós; dos brancos, o olhar intelectual de carneiro mal morto; e dos vermelhos, essa grande maluqueira de sermos todos iguais.  

O alentejano, como se vê, mais do que uma raça pura, é uma raça apurada. Ou melhor, uma caldeirada feita com os melhores ingredientes de cada uma das raças. Não é fácil fazer um alentejano. Por isso, há tão poucos.

É certo que os judeus são o povo eleito de Deus. Mas os alentejanos têm uma enorme vantagem sobre os judeus: nunca foram eleitos por ninguém, o que é o melhor certificado da sua qualidade.

Conhecem, por acaso, alguém que preste que já tenha sido eleito para alguma coisa? Até o próprio Milton Friedman reconhece isso quando afirma que «as qualidades necessárias para ser eleito são quase sempre o contrário das que se exigem para bem governar».

E já imaginaram o que seria o mundo governado por um alentejano? Era um descanso.

Santana-Maia Leonardo -A Ponte de 23/5/2022

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