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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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É importante não confundir alhos com bugalhos. Uma coisa é o género gramatical, outra coisa é o género sexual. São duas coisas diferentes e que não se confundem. Uma pedra é do género feminino, do ponto de vista gramatical, mas não é do género feminino, do ponto de vista sexual.

Penso que não é preciso ser muito inteligente, nem letrado, para perceber esta evidência.

Do ponto de vista gramatical, em latim, o género masculino é o género neutro. Ou seja, não era nem masculino, nem feminino, do ponto de vista sexual.

Do ponto de vista gramatical, o género marcado era o feminino. Ou seja, gramaticalmente, o género masculino era unissexo, enquanto o género feminino era apenas feminino.

Passando a exemplos práticos.

Se eu disser: "Chamem um médico!" e me trouxerem uma médica, foi cumprida a minha solicitação.

Agora se eu disser: "Chamem uma médica!", a solicitação não é cumprida se me trouxerem um médico.

Se eu quiser um médico-homem, tenho de dizer: "Chamem um médico que seja homem".

Alguma dúvida?

Santana-Maia Leonardo - A Ponte de 27/6/2022

24 Jun, 2022

Apodrecer ao Sol

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O país está literalmente a apodrecer ao Sol. A todos os níveis, seja na Saúde, na Justiça, na Educação, na Segurança Social, na Administração Pública ou na Administração Local. E o mal vem de longe. Só que, em vez de se atalhar caminho, à boa maneira portuguesa, foi-se deixando a situação deteriorar e apodrecer na árvore até cair de podre.

O pior é que não se vê solução à vista até porque o sistema político, que tinha a obrigação de gerar as soluções, também já apodreceu, pelo que não se espere que daí venha a salvação. Bem pelo contrário. Sempre que algum governante decide levar a cabo alguma reforma, o resultado é quase sempre o contrário da finalidade pretendida. Em vez de resolver o problema, agrava-o.

Veja-se o caso do S.N.S. em que o Governo teve a brilhante ideia de acabar com as parcerias público-privadas que era precisamente das poucas coisas que estavam a funcionar bem e com alguma racionalidade.

Agora, no desespero, toda a gente clama por mais dinheiro. Só que o dinheiro é como a água: se um sistema de rega não estiver operacional e houver ruptura na canalização, o desperdício de água não só é enorme como a solução não passa por bombear cada vez mais água.

Portugal precisa urgentemente de organização, racionalidade e bom senso que é precisamente aquilo que, por cá, não existe. E, sobretudo, de valorizar aqueles que são melhores do que nós, porque não é promovendo os medíocres e odiando o mérito que os países conseguem progredir, desenvolver-se e ultrapassar os seus problemas. Mas isto também é pedir de mais num país onde as pessoas são como o vinho: os melhores são para exportação.

Parafraseando George Orwell, a saúde das democracias, tal como a saúde das competições desportivas, dependem do grau de exigência dos cidadãos relativamente à sua família ideológica e desportiva. Quem se move por convicções é muito exigente consigo e com os seus, quem se move por inveja exige tudo aos outros e desculpa tudo aos seus. E reside aqui precisamente um dos grandes problemas do nosso país: a inveja tem um peso muito grande na formulação da opinião e da decisão de uma esmagadora maioria dos portugueses.

Avaliação, mérito e transparência são palavras para serem usadas no discurso político, mas proibidas na acção política, sob pena de se perder automaticamente as eleições. A nossa organização política assenta numa teia de cumplicidades, amizades e promiscuidades, construída  em forma piramidal que começa na mais pequena freguesia e termina na cúpula do Estado e que bloqueia qualquer tentativa de regeneração do sistema.

Mesmo quando a situação apodrece ao extremo e começa a exalar um cheiro nauseabundo, a reacção do português que a sustenta com o seu voto é impreterivelmente esta: “os outros, se cá estivessem, ainda faziam pior.” Ou seja, não há praticamente nenhum português que acredite que possa existir alguém que consiga fazer melhor. Não porque não haja melhores e muito melhores. Mas porque sabem, por conhecimento directo e pessoal, que o sistema apenas está preparado para produzir mais do mesmo.

Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 24/6/2022

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Costumo definir-me politicamente como conservador, liberal e socialista. Conservador nos valores; liberal na economia; e socialista nas preocupações sociais. E o PSD era um partido que correspondia bem a esta minha definição.

Distinguia-se do PS sobretudo por dois aspectos: o PS era menos liberal na economia do que o PSD e o PSD era menos fracturante nos valores do que o PS. Isso resultava, aliás, da base de apoio dos dois partidos.

Enquanto o PSD representava, sobretudo, os pequenos e médios comerciantes, empresários, agricultores e profissionais liberais, o PS tinha as suas raízes no funcionalismo público.

Quanto ao resto, tinham muita coisa em comum, desde logo as mesmas preocupações sociais e a partilha dos mesmos valores democráticos, designadamente dos valores fundadores das democracias liberais: respeito pelas minorias, pelo estado de direito, pela liberdade de expressão e de opinião e pelos direitos da oposição.

É este património que o PSD perdeu, uma vez que existe cada vez mais gente a fingir que é, mas que verdadeiramente já não é.

Hoje Portugal está literalmente partido ao meio: de um lado, o sector financeiro e as grandes empresas, protegidos pela lei e pelo governo qualquer que ele seja; e do outro, o funcionalismo público e os assalariados, defendidos nas ruas e nas mesas das conversações pelos sindicatos e pela esquerda.

No actual espectro partidário, não existe nenhum partido que defenda e/ou represente os pequenos e médios agricultores, empresários, comerciantes e profissionais liberais, ou seja, aqueles que são responsáveis por 90% dos postos de trabalho, e que foram, em tempos, a base eleitoral e a razão de ser do PSD. E quando o sector mais dinâmico da sociedade não tem ninguém que o represente politicamente, só se se pode esperar o pior.

Santana-Maia Leonardo - A Ponte de 20/6/2022

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