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Costumo definir-me politicamente como conservador, liberal e socialista. Conservador nos valores; liberal na economia; e socialista nas preocupações sociais. E o PSD era um partido que correspondia bem a esta minha definição.
Distinguia-se do PS sobretudo por dois aspectos: o PS era menos liberal na economia do que o PSD e o PSD era menos fracturante nos valores do que o PS. Isso resultava, aliás, da base de apoio dos dois partidos. Enquanto o PSD representava, sobretudo, os pequenos e médios comerciantes, empresários, agricultores e profissionais liberais, o PS tinha as suas raízes no funcionalismo público.
Quanto ao resto, tinham muita coisa em comum, desde logo as mesmas preocupações sociais e a partilha dos mesmos valores democráticos, designadamente dos valores fundadores das democracias liberais: respeito pelas minorias, pelo estado de direito, pela liberdade de expressão e de opinião e pelos direitos da oposição. É esse património que se está a perder no PSD, uma vez que existe cada vez mais gente a fingir que é, mas que verdadeiramente já não é.
Como escreveu recentemente Pacheco Pereira, na génese do PSD, “havia um conjunto de pessoas notáveis a nível local, personalidades com influência. Eram médicos, pequenos industriais, comerciantes, empresários, advogados, operários em muitos casos, com influência nas suas freguesias, cuja vida não dependia do seu papel nas estruturas partidárias. (…) Hoje, há estruturas do partido, com pessoas com carreiras dentro do partido, cuja única preocupação é gerir as suas próprias carreiras (…) e, quando o PSD está no poder, comunicam com os lugares de influência nacional, assessores do governo, administrações regionais.”
Hoje Portugal está literalmente partido ao meio: de um lado, o sector financeiro e as grandes empresas, protegidos pela lei e pelo governo qualquer que ele seja; e do outro, o funcionalismo público e os assalariados, defendidos nas ruas e nas mesas das conversações pelos sindicatos e pela esquerda.
No actual espectro partidário, não existe nenhum partido que defenda e/ou represente os pequenos e médios agricultores, empresários, comerciantes e profissionais liberais, ou seja, aqueles que são responsáveis por 90% dos postos de trabalho, e que foram, em tempos, a base eleitoral e a razão de ser do PSD. E quando o sector mais dinâmico da sociedade não tem ninguém que o represente politicamente, só se se pode esperar o pior.
Para já não falar nas populações marginalizadas que sobrevivem no Alentejo e no interior, onde falta praticamente tudo, e que são tratadas por Lisboa com menos consideração do que os nativos das ex-colónias eram tratados pelo Estado Novo.
Santana-Maia Leonardo - O Mirante de 28/7/2023
Em 2017, o jornalista Vítor Matos publicou um trabalho jornalístico de investigação sobre os dois maiores partidos portugueses, com base em depoimentos e casos reais, dando-nos a conhecer como são construídas as relações de poder dentro de cada partido num esquema de pirâmide, onde apenas consegue triunfar gente pouco escrupulosa e onde as autarquias desempenham um papel essencial.
Se está interessado em saber como se conquista e mantém o poder em Portugal, aconselho-o a ler este livro intitulado “Os Predadores”.
Depois de o ler, vai perceber por que razão temos sido governados, nos últimos trinta anos, por verdadeiras associações de malfeitores e por que razão é praticamente impossível livrarmo-nos desta gente: o sistema está blindado.
Sete anos após a publicação deste livro, tudo continua na mesma o que demonstra bem não só a falta de vergonha desta gente como também e sobretudo a grande complacência do cidadão eleitor para com esta canalha. Com efeito, quando os chefes partidários, para conquistarem o poder interno no partido, não olham a meios, designadamente, aos mais sórdidos e desonestos, como é relatado no livro, não se pode esperar que, depois, se transformem em gente honesta e honrada no exercício dos cargos que conquistaram de forma tão vil.
Santana-Maia Leonardo - A Ponte de 24/7/2023