Em defesa da honra
«Nunca irrites um homem paciente» (Confúcio)
EXPOSIÇÃO AOS PRESIDENTES DA COMISSÃO POLÍTICA
NACIONAL, DISTRITAL E CONCELHIA DO PSD
Eu, Santana-Maia Leonardo, militante do PSD da secção de Abrantes com nº8513 e vereador da câmara municipal de Abrantes eleito pelo PSD, venho, em defesa da honra dos candidatos autárquicos do PSD no concelho de Abrantes, dizer o seguinte:
I
O PRINCÍPIO
Quando em Julho de 2008, recebo um telefonema de um indivíduo que se identificou como presidente da concelhia de Abrantes do PSD para tomar um café no Hotel Turismo de Abrantes, estava muito longe de imaginar o que me esperava.
Com efeito, estava afastado de toda e qualquer actividade partidária há mais de dez anos e não tinha intenção nem vontade de regressar até porque tinha ficado com muito má opinião do funcionamento interno do partido.
Foi, por isso, com surpresa e total estranheza que fui confrontado com o convite para ser candidato a presidente da câmara de Abrantes.
Relativamente a Gonçalo Oliveira, que não conhecia, devo, no entanto, dizer que foi de uma grande lealdade comigo no momento em que me fez o convite na medida em que me contou grande com rigor (como pude constatar posteriormente) a história da secção de Abrantes, identificando o seu principal problema e que tem a sua génese no mandato de Humberto Lopes como presidente da câmara de Abrantes (1989-1993), altura em que se geraram dois grupos que se digladiam e odeiam literalmente: um grupo afecto a Humberto Lopes e outro afecto ao Engenheiro Marçal.
E nem o facto do Dr. Humberto Lopes se ter afastado do PSD e do Engenheiro Marçal, por razões profissionais, se ter afastado de Abrantes impediu que os dois grupos mantivessem a sua actividade e hostilidade dentro da secção.
Segundo o Gonçalo, o partido estava, no entanto, a viver uma oportunidade única de superar esta rivalidade e de se renovar, uma vez que ninguém na secção estava interessado em disputar a presidência da câmara nas eleições autárquicas de 2009, estando, por isso, criadas as condições para uma candidatura tranquila que lançasse as bases para uma verdadeira alternativa aos socialistas.
Com efeito, sendo as eleições de 2009 as últimas a que Nelson de Carvalho se podia recandidatar, todos os interessados se estavam a guardar para as autárquicas de 2013, uma vez que era reconhecido por todos ser impossível vencer em 2009.
No entanto, como o ódio entre as duas facções estava tão entranhado, era indispensável que o candidato escolhido fosse exterior à história da concelhia, razão por que consideraram ser eu o candidato ideal naquelas circunstâncias: estava ligado a Abrantes familiar e profissionalmente; identificavam-se com os meus artigos de opinião no jornal Primeira Linha; e nunca me tinha envolvido em qualquer actividade da concelhia.
Não fosse o Gonçalo ter-me dito que todos os candidatos a candidato a presidente da câmara se estavam a guardar para as autárquicas de 2013, porque era totalmente impossível ganhar as autárquicas de 2009, e eu teria logo ali recusado o convite.
E o motivo, para quem me conhece, é muito fácil de entender.
Na vida há dois tipos de pessoas: as que nascem para comer os frutos e as que nascem para plantar as árvores.
Eu pertenço claramente ao segundo grupo que, em Portugal, verdade se diga, constitui um grupo muito pequeno.
Quando, em Setembro/Outubro de 2008, o meu nome foi apresentado para aprovação no plenário de militantes, tive a oportunidade de dizer aos militantes ali presentes, entre os quais o Dr. Armando Fernandes e o Eng. José Marçal, que não estava interessado em ser candidato e que se conhecessem alguém que quisesse ser candidato era o maior favor que me faziam.
E pedi a todos os militantes ali presentes para ponderarem bem, razão por que me iria ausentar da sala para que a minha presença não inibisse algum militante de levantar alguma dúvida sobre o meu nome.
Houve não só unanimidade na escolha como também o Dr. Armando Fernandes e o Eng. José Marçal (que eu vi pela primeira vez) fizeram questão de me expressar publicamente o seu apoio.
As autárquicas de 2009 pareciam, assim, condenadas a decorrer num clima de surpreendente acalmia até que dois acontecimentos fizeram emergir, de novo, todas as rivalidades: a não recandidatura de Nelson de Carvalho e o anúncio da candidatura independente de Albano Santos.
Ou seja, aqueles que se estavam a guardar para as autárquicas de 2013 começaram a olhar para as autárquicas de 2009 como a sua oportunidade perdida.
E, a partir daqui, a candidatura «Amar Abrantes» passou a ter uma vida conturbada e complicada, começando eu a aperceber-me de que tudo iria implodir no momento da apresentação das listas e por duas razões:
(I) o grupo do Eng. José Marçal de que o Dr. Armando Fernandes é o rosto visível não aceitava que o Gonçalo Oliveira integrasse a lista da câmara em lugar elegível, sendo certo que esse era, pela lógica das coisas, o seu lugar natural, tendo em conta o seu empenho e envolvimento ab initio na candidatura;
(II) por sua vez, o Dr. Armando Fernandes exigia ir num dos dois primeiros lugares da lista da Assembleia Municipal, sendo certo que não havia uma única pessoa que aceitasse integrar a lista liderada pelo Dr. Armando Fernandes.
Aliás, todas as pessoas com quem eu falei em Abrantes para integrar as listas ou para simplesmente colaborarem ou me ajudarem, apontaram o Dr. Armando Fernandes como persona non grata: umas não aceitaram colaborar, pelo simples facto de terem de lidar com o Dr. Armando Fernandes; outras não aceitavam integrar uma lista onde ele estivesse; outras acabaram por se afastar, porque não estavam para ser sistematicamente ofendidas por ele nas reuniões em que participavam; e mesmo as pessoas que lhe eram mais próximas me confidenciaram que, tendo em conta os anticorpos que tem em Abrantes, a sua entrada nas listas nas eleições anteriores se deveu apenas ao receio da sua reacção.
A antipatia que o Dr. Armando Fernandes gerava era tal que tive mesmo de inventar uma desculpa para não o convocar para as reuniões da comissão política da candidatura, sob pena de ficar sem nenhum dos quarenta elementos da comissão.
Relativamente à lista da câmara, o Gonçalo, precisamente na noite 8 de Junho de 2009, ou seja, a quatro dias do jantar da apresentação das listas do PSD, aceitou não integrar a lista da câmara, para evitar que o Dr. Armando Fernandes e o grupo do Eng. José Marçal pusessem o partido a ferro e fogo como se preparavam para o fazer, se isso sucedesse.
Relativamente à lista da Assembleia Municipal, optámos por adiar a sua apresentação, bem sabendo que ou arranjávamos um candidato suficientemente forte capaz de serenar os ânimos ou o partido voltaria a entrar em ebulição, tornando extremamente dolorosa a campanha eleitoral.
Ora, por muitas voltas que déssemos, o único nome com potencial para pacificar a secção, ainda que temporariamente, era o nome do Dr. Eduardo Catroga.
Por isso, empenhei-me, até ao último momento, em conseguir a sua aceitação para o cargo, recorrendo, inclusive, ao poder de influência da presidente do partido, do Dr. Torres Pereira e do Dr. Morais Sarmento.
Mas em vão.
A partir dali, não havia qualquer hipótese de o partido chegar às eleições unido e sem uma grande conturbação interna, uma vez que, por um lado, o Dr. Armando Fernandes só aceitava um dos dois primeiros lugares e, por outro, ninguém aceitava integrar a lista se ele fosse num dos dois primeiros lugares.
Para conseguir formar a lista da Assembleia e levar o núcleo principal da candidatura unido até às eleições, tive de comunicar ao Dr. Armando Fernandes de que não iria integrar a lista à Assembleia, uma vez que não lhe poderia oferecer nenhum dos dois primeiros lugares da lista.
A reacção do Dr. Armando Fernandes foi a seguinte:
Que eu não sabia com quem estava a falar e do seu peso no PSD concelhio, distrital e nacional, Que me ia destruir politicamente, Que iria arranjar uma coluna em todos os jornais e rádios de Abrantes para me destruir, Que eu nunca mais me atrevesse a andar no mesmo passeio que ele ou de o cumprimentar, etc. etc. (estas, como devem entender, foram apenas as expressões mais suaves).
E, verdade se diga, começou a cumprir, de imediato, o seu programa de destruição, tendo inclusive usado o seu discurso de despedida como chefe de bancada do PSD na última Assembleia Municipal de Abrantes para elogiar o bom relacionamento institucional com os socialistas e declarar que não votava no PSD nas próximas autárquicas porque eu tinha todos os defeitos e mais alguns.
A partir daqui não há jornal ou rádio do concelho de Abrantes em que não tenha uma coluna com que se entretém religiosa e semanalmente a fustigar, ridicularizar e achincalhar, conforme me foi prometido, os vereadores e demais eleitos do PSD, usando os meios e a informação que os socialistas carinhosamente colocam ao seu dispor para o fazer.
Conhecendo a génese do seu destilado ódio contra mim e demais eleitos do PSD, decidi seguir o prudente conselho de Bernard Shaw, como sempre faço em circunstâncias semelhantes: «Nunca lutes com um porco. Primeiro, porque ficas sempre sujo e, segundo, porque o porco gosta.»
II
A CILADA
Acontece que, no passado dia 30 de Novembro, fui convidado, assim como todos os candidatos autárquicos do PSD, para participar numa sessão destinada ao lançamento do 1º Congresso Distrital do PSD, a realizar na sede do partido em Abrantes, sessão essa aberta não só a simpatizantes e militantes do PSD, mas a toda a sociedade civil abrantina.
Segundo nos foi comunicado, o objectivo da sessão seria o de fazer o diagnóstico informativo da situação em que se encontra o concelho da Abrantes para permitir identificar um conjunto de propostas e de ideias comuns que beneficiasse toda a comunidade municipal e inter-municipal dos 21 municípios de Santarém.
Acontece que a oportunidade foi aproveitada pelo Dr. Armando Fernandes para, através de uma intervenção escrita, voltar a abrir fogo sobre os vereadores, deputados municipais e de freguesia do PSD, assim como os demais candidatos do PSD das últimas autárquicas, ridicularizando-os e achincalhando-os, como tão bem sabe fazer, usando, designadamente, termos pejorativos, humilhantes e insultuosos, tendo terminado o seu elaborado discurso aconselhando a distrital nas próximas autárquicas a «escolher candidatos honestos».
E tudo isto perante a passividade da mesa que permitiu que os candidatos autárquicos a quem as estruturas do PSD andaram a pedir por favor para se candidatarem em circunstâncias extremamente difíceis (todos sabemos que é fácil arranjar candidatos para comer os frutos, não é fácil arranjar candidatos para plantar as árvores) fossem ali, perante pessoas estranhas ao partido, alvejados pelas costas por um sniper com o estatuto de convidado da distrital.
Se a distrital ou a concelhia estão arrependidas dos candidatos que escolheram, deviam tê-lo pensado antes de os convidarem, porque nenhum deles se veio oferecer.
Se a distrital ou a concelhia queriam voltar a discutir os resultados das eleições autárquicas, então deviam convocar um plenário de militantes para evitar expor os candidatos escolhidos até porque o PSD vai precisar da maioria deles se quiser concorrer nas próximas eleições.
Se a distrital ou a concelhia queriam discutir o trabalho desenvolvido pelos vereadores ou pelos deputados municipais ou de freguesia, deviam ter convocado a reunião com essa ordem de trabalhos e para esse fim.
Além disso, os presidentes da comissão política distrital e concelhia sabiam que os vereadores do PSD estavam a ser atacados por honrarem dois compromissos que constam não só do seu programa eleitoral como foram expressamente assumidos em conferência de imprensa, quando o Dr. Armando Fernandes ainda fazia parte da comissão política da candidatura:
- relativamente à segurança, a denúncia pública como único meio de quebrar o círculo do medo que se instalou em Abrantes e obrigar as autoridades públicas e o governo a intervir (conferência no Centro Comercial Millenium em 27 de Abril de 2009);
- relativamente à requalificação do centro histórico, defender uma solução que não passasse pela deslocalização da Câmara Municipal e do Mercado Municipal, nem pela construção do Museu Ibérico com a volumetria proposta, sem um estudo sério sobre a sua viabilidade económica, o que ainda não foi feito (conferência no Centro Histórico em 18 de Julho de 2009).
Para já não falar, na teoria política de vencer as eleições a qualquer preço, assumida ali pelo Dr. Armando Fernandes, sem qualquer pudor, numa sessão aberta ao público, pondo em causa os alicerces do partido fundado sobre o princípio de que acima dos interesses mais imediatos e mesquinhos do partido e dos eleitores está o supremo interesse de Portugal.
É fácil ganhar votos e eleições satisfazendo os interesses mais imediatos dos eleitores usando o dinheiro dos contribuintes como faz Carlos César nos Açores; é fácil ganhar votos no Continente criticando o que Carlos César faz nos Açores.
Difícil é erguer a voz, em nome do futuro e do superior interesse nacional, contra os Carlos César que proliferam por esse país fora, inclusive no nosso partido, e que continuam a comprar votos com o nosso dinheiro, hipotecando o futuro de todos nós, dos nossos filhos e dos nossos netos.
Ora, face ao silêncio cúmplice e reverencial da mesa, só podemos concluir que os candidatos autárquicos do PSD foram atraídos para uma verdadeira cilada.
Caso contrário, a mesa teria reagido de imediato, após a intervenção do Dr. Armando Fernandes, para expressar, publica e inequivocamente, a sua solidariedade institucional para com todos os eleitos e candidatos autárquicos do PSD, de forma a que ficasse claro para toda a gente que não se revia nem na forma, nem no conteúdo, da intervenção do Dr. Armando Fernandes.
Porque, como diz o povo, «quem cala consente».
Devo-lhes, no entanto, dizer que as feridas nas minhas costas saram depressa.
Não só não me abatem como são a principal fonte da minha energia.
III
E O FIM
Hoje é com grande satisfação que vejo renascer nos corações mais empedernidos a sua enorme paixão pelo partido que, durante os últimos anos, andou tão arredia.
Até nestas paixões cíclicas somos demasiado parecidos com os socialistas, o que não indicia nada de bom, ou seja, de diferente.
Irei, no entanto, cumprir o meu mandato até ao fim, honrando o contrato eleitoral que celebrei com o partido e os eleitores do concelho de Abrantes.
Ao contrário do que muita gente pensa, o mandato não acaba no dia das eleições, começa no dia das eleições.
E era precisamente isto e apenas isto que o partido devia exigir sempre aos seus candidatos: que cumpram o mandato e honrem o contrato eleitoral celebrado com os eleitores.
E, depois, no final do mandato, a seu tempo e desapaixonadamente, se fará a avaliação do mesmo, no tempo próprio, elaborando-se, então, um novo contrato eleitoral e apresentando-se uma nova equipa.
Não pretendo, como já deixei claro, ser candidato ou ser nomeado para o que quer seja.
Só queria que as estruturas do partido tratassem com o respeito devido todos aqueles que, nos terrenos e nas circunstâncias mais difíceis, dão a cara pelos valores do partido, pagando do seu bolso grande parte dos custos da campanha eleitoral.
Difícil não é dar a cara onde se é poder ou onde a vitória está garantida.
Difícil é dar a cara onde se sabe que se vai perder e resistir onde tudo é contra nós: o poder, as sondagens, os jornais, as rádios, os apoios, as associações que vivem dos subsídios, os empresários que vivem das obras e até os filhos da mãe de alguns dos nossos militantes.
O expoente
Santana-Maia Leonardo
P.S.: Informo que irei dar conhecimento desta exposição aos 482 candidatos autárquicos do concelho de Abrantes do PSD, para que saibam que há alguém no partido capaz de dar a cara por eles.