A MINHA SENTENÇA SOBRE O MIAA
Artur Lalanda
Nos anos quarenta, do século passado, costumava visitar, numa pequena aldeia da Beira Baixa, a minha querida tia Rosa. Analfabeta, já nessa altura sexagenária, recebia-me sempre, de braços abertos, com as mesmas palavras: oh camarada, dá cá um abraço e “caga lá sentenças”.
À despedida, trazia no bolso uma moeda de vinte e cinco tostões, que utilizava (mal) na compra de um maço de cigarros “Definitivos”, os mais baratos da época.
Ficou-me o hábito de “cagar sentenças” e cumprimentar as minhas netas, tratando-as por camarada.
O MIAA, aparentemente a obra de eleição do regime, por várias razões, tem sido alvo de críticas públicas, de origem diversa. Tal como está projectado, para mim, não passa de um caixote monstruoso, encavalitado em parte do Convento de São Domingos, que teria de ser demolida para dar lugar ao tal caixote, inestético e sem nenhuma beleza exterior.
Por certo, não há abrantino que se preze, mesmo por adopção, como é o meu caso, que não gostasse de ter um museu ibérico, recheado por uma boa colecção (que pelos vistos existe) mas…
1) Seria ignorada a opinião de uma grande parte da população;
2) Seria destruída parte da memória histórica da cidade;
3) Seria criado um “elefante branco” cuja manutensão se adivinha ruinosa.
Não podemos alhear-nos dos custos da obra, da sinuosa adjudicação do projecto, do grosseiro atropelo às disposições do PDM e Regulamento do Centro Histórico (impostas aos munícipes e desprezadas pelo Município – com que moral ? -) e à situação de crise generalizada, por tempo indeterminado.
Serenamente, contemplados todos os pró e contras, pondo de lado interesses partidários, se vier a optar-se pela construção deste museu, terá que haver uma justificação para a sua localização. Por que tem que ser ali e não noutro sítio? (por exemplo em frente da escola dos Quinchosos).
Já não fumo e não peço a moeda de vinte e cinco tostões, atrevo-me e recomendar, apenas, bom senso.