17 Jan, 2009
FALTA DE VERGONHA
por António Belém Coelho
Há algum tempo atrás dei-vos conta de um episódio bastante didáctico para perceber a natureza das relações entre a comunicação social e o poder socialista. Quando da apresentação pública de um programa de combate relativo à SIDA, nas Escolas do País, as ministras dos respectivos sectores, com a habitual pompa e circunstância a que este Governo nos habituou em qualquer acto da mesma natureza ou mesmo de menor importância, lá se sujeitaram à habitual sessão de perguntas e respostas.
De imediato o repórter de serviço da TV estatal, aquela que nós pagamos mesmo não vendo, direccionou à ministra da Educação questões relacionadas com o momento que se vivia e ainda se vive derivado da avaliação (ou desavaliação) dos Professores. Mais rápida que o relâmpago, a titular do Ministério da Saúde, dirigiu-se ao repórter nestes termos: «O quê? O senhor não sabe o que está combinado? Que hoje só pode fazer perguntas sobre esta cerimónia e sobre o plano de combate à sida nas Escolas? Ainda por cima é a RTP, a televisão pública, a fazer uma coisa destas.»
Palavras para quê? É uma artista portuguesa. Ou seja, gato escondido com rabo, lombo, cabeça e orelhas de fora! Nada pode ser mais claro em termos de tentativa de controlar o trabalho dos meios de comunicação social. E a última parte do discurso permite concluir que qualquer detentor do poder actual tem como dado adquirido que esse controlo é perfeitamente natural, pelo menos, face aos órgãos de comunicação estatais. Brilhante!
Mais brilhante ainda a reacção da maioria socialista no Parlamento ao pedido de audição parlamentar da ministra em causa, sobre tão edificante episódio. É evidente que a maioria socialista recusou essa audição (o que já se tornou habitual nos mais diversos domínios) apesar de toda a oposição sem excepção a considerar importante. Aqui está o que devemos esperar da actual maioria; na comunicação social e noutros domínios.