UM PAÍS DE TIRANETES
Elsa Cardoso
Vasco Pulido Valente escreveu um artigo no Público de 18/3/11 sobre José Sócrates mas que, em boa verdade e infelizmente, se aplica à esmagadora maioria dos dirigentes partidários que proliferam por esse país fora e que também se julgam donos das concelhias, transformando-as numa terra de ninguém, onde apenas cabem e têm direitos aqueles que lhes prestam vassalagem ou se submetem aos seus inconfessáveis desígnios:
«Quando umas tantas pessoa protestaram, o eng. Sócrates respondeu, indignadamente, que o que lhe importava não era a "forma", era o "conteúdo" do que fizera. Só em Portugal esta explicação poderia ter passado sem um escândalo maior ou mesmo sem a demissão do primeiro-ministro. Convém explicar porquê à ignorância indígena. (...) A democracia, em que teoricamente vivemos, exige que se respeite a "forma", que em última análise legitima qualquer decisão política.
Não custa compreender essa diferença. A democracia assenta na "forma". O próprio princípio representativo não é mais do que uma "forma". (...) E se, por acaso, se puser em dúvida a "forma" do regime, não há maneira de fundar o menor acto do Governo, excepto no "conteúdo" que um ditador, inevitavelmente sustentado pela força, à altura lhe resolver dar. (...)
Sócrates não percebe isto porque não é nem nunca foi um democrata. Resta saber se uma democracia aguenta indefinidamente e de boa saúde a autoridade de um tiranete da Beira.»