27 Jan, 2009
OLHAR MOURISCAS
por Manuel Catarino
Mas, com o tempo as fábricas fecharam, a geração que tinha sido ensinada emigra, a desertificação e o envelhecimento alastram, enfim o paradigma passa a ser outro.
Mouriscas tinha singrado sozinha e também só estava a definhar. Abrantes, do alto do seu Castelo continuava de costas voltadas e lá se lembrou por uma vez que este povo existia, construiu uma barragem e disponibilizou-lhe água potável. Já lá vão duas dezenas de anos.
Os de cá da terra e outros que a fizeram sua, continuaram com a horta, nos Santos a varejar a azeitona e no dia a dia a fazer mais uma casa ou recuperar uma outra, para o conterrâneo bem sucedido e que precisava da casa da aldeia.
Das muitas indústrias duas vão-se mantendo e uns poucos empresários, sempre sós, vão dando uns pontapés no sistema e são a pequena lufada de ar fresco e dinheiro para umas quantas famílias.
De permeio, as associações mantêm alguma actividade de prestação de serviços a idosos, desporto e lazer e uns quantos blogs transmitem aos não de cá a riqueza e o potencial desta terra.
Há mais de vinte anos que Abrantes, ou os senhores da Câmara, viraram as costas a Mouriscas mas os novos tempos trazem pessoas diferentes.
Mas, se esta terra já teve capacidade de gerar doutores e com uma média superior a qualquer outra, se já teve capacidade para gerar riqueza, julgamos possível ser capazes de tornar Mouriscas novamente atractiva, encontrando em si um novo modelo para enfrentar este declínio.
Não acredito na construção de uma zona industrial em Mouriscas. Em tantos anos de Comunidade, com tantos milhões a serem canalizados para o concelho sem qualquer investimento nessa área e encontrando-nos rodeados dessas infra-estruturas, é razoável percebermos que fomos ultrapassados e que perdemos o comboio da indústria.
Mas esta é a nossa terra e impõe-se-nos criar aqui condições de vida digna.
Não é tempo de procurar culpados ou exorcizar este ou aquele. Não é tempo de actos isolados e de culturas adonistas de umbigo. Impõe-se juntarmo-nos humildemente ao redor das estruturas e instituições que temos e criar modelos de desenvolvimento sustentável, utilizando as potencialidades da terra e os apoios que possam estar disponíveis. Impõe-se que as crianças desta terra, quando acedem ao secundário, sejam olhadas pela qualidade como antigamente.
É tempo de olhar e ver Mouriscas com outros olhos.
Escolhi Mouriscas. Aqui sou eleitor. Aqui tenho os meus amigos.
Fui convidado por Santana Maia para um projecto e aceitei. É meu dever dizer que podem contar comigo para, todos juntos, invertermos esta inércia e recuperar do perdido nestes últimos vinte anos.