ENTREVISTA AO NOVA ALIANÇA (2ª parte)
A CULTURA DE REBANHO
Nova Aliança – Que opinião tem dos fundamentos apresentados pelo PSD de Abrantes?
Santana-Maia - Invocar como fundamento para a retirada da confiança política o facto de eu manter algum distanciamento crítico em relação a determinadas posições do partido não é honesto. Em primeiro lugar, porque eu não só nunca fui um «yes, man» como defendi sempre a liberdade de expressão como um dos valores principais a ser defendidos e preservados pela candidatura "Amar Abrantes" e pelo PSD. E basta ler os meus artigos no Primeira Linha, nos anos anteriores ao convite para ser candidato, para se constatar que eu sempre discuti e critiquei abertamente as posições dos líderes e dos governos do PSD quando não concordava com elas. Para mim, o PSD, assim como qualquer partido democrático, só pode ser um verdadeiro agente de mudança se preservar e valorizar os espíritos livres e independentes. Sou, por isso, visceralmente, contra os partidos tipo PS de Sócrates, em que o líder é o pastor e o partido um rebanho de ovelhas. Ora, é precisamente este modelo de partido que é agora defendido pela actual comissão política concelhia do PSD e que, por ironia do destino, é rejeitado não só por mim como também pelo actual líder do PSD Passos Coelho. Basta até ter em conta que a chamada "lei da rolha", que foi aprovada num congresso do PSD com o voto da actual presidente da comissão política, foi, de imediato, rejeitada por Passos Coelho. Aliás, todo o discurso de Passos Coelho assenta na abertura do partido à sociedade civil com vista precisamente a evitar que o partido fique refém desta cultura de rebanho que tem as suas raízes no antigo regime e nos regimes totalitários.
Em segundo lugar, quando aceitei ser candidato, disse expressamente que o meu compromisso era apenas com o projecto da candidatura autárquica à Câmara de Abrantes. E todas as pessoas que eu convidei foi com base no mesmo compromisso. Não só nunca perguntei a ninguém em quem costumava votar ou qual o seu partido do coração como também, àquelas que fizeram questão de mo dizer, lhes disse logo que isso não me interessava. Aliás, para que as pessoas compreendessem a filosofia que estava subjacente à candidatura "Amar Abrantes", repeti até à exaustão o provérbio japonês no qual eu me revejo: "Quando há duas pessoas que pensam da mesma maneira, uma delas é dispensável". O objectivo era servir o concelho e as populações e não juntar um rebanho de ovelhas, acrítico e de pensamento único, para servir o partido.