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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

 

O BEIJO DE JUDAS

 

Nova Aliança – O PSD de Abrantes retirou a confiança política aos seus vereadores (Elsa Cardoso e Santana Maia). Já estava à espera desta decisão ?  

 

Santana-Maia -A partir do momento em que o PSD de Abrantes ficou nas mãos daqueles que não só sempre foram contra a minha candidatura à Câmara de Abrantes como tudo têm feito, a partir desse momento e sem olhar a meios, para fragilizar, apoucar, diminuir e denegrir os candidatos e os eleitos da candidatura "Amar Abrantes", a retirada da confiança política acaba por ser o corolário lógico de toda uma filosofia que tem dominado o PSD de Abrantes, durante os últimos vinte anos, e contra a qual a minha candidatura se ergueu.

 

Aliás, na noite do passado dia 1 de Janeiro, às 22H10, ou seja, cerca de quatro meses antes do anúncio da retirada da confiança política, recebi no meu telemóvel uma mensagem anónima que resume o teor do comunicado que agora foi lido pela comissão política, o que significa que a pessoa que me enviou este sms estava bem por dentro da teia que estava a ser urdida no PSD de Abrantes. A mensagem dizia o seguinte: «O psd e principalmente os abrantinos muito agradecem um gesto nobre da sua parte: DEMITA-SE DE VEREADOR. Estamos fartos da sua prepotência, autoritarismo e falta de vergonha. O seu egocentrismo asfixia-o. De uma coisa pode ficar certo só descansarei quando excomungar as laranjas podres da nossa secção. Os energúmenos como vossa excelência têm os dias contados.»

 

Como vê, não só estava à espera como aguardava tranquilamente pelo beijo de Judas, se bem que, neste caso, Judas seja do sexo feminino.  

 

A CULTURA DE REBANHO  

  

Nova Aliança – Que opinião tem dos fundamentos apresentados pelo PSD de Abrantes? 

 

Santana-Maia - Invocar como fundamento para a retirada da confiança política o facto de eu manter algum distanciamento crítico em relação a determinadas posições do partido não é honesto. Em primeiro lugar, porque eu não só nunca fui um «yes, man» como defendi sempre a liberdade de expressão como um dos valores principais a ser defendidos e preservados pela candidatura "Amar Abrantes" e pelo PSD. E basta ler os meus artigos no Primeira Linha, nos anos anteriores ao convite para ser candidato, para se constatar que eu sempre discuti e critiquei abertamente as posições dos líderes e dos governos do PSD quando não concordava com elas. Para mim, o PSD, assim como qualquer partido democrático, só pode ser um verdadeiro agente de mudança se preservar e valorizar os espíritos livres e independentes. Sou, por isso, visceralmente, contra os partidos tipo PS de Sócrates, em que o líder é o pastor e o partido um rebanho de ovelhas. Ora, é precisamente este modelo de partido que é agora defendido pela actual comissão política concelhia do PSD e que, por ironia do destino, é rejeitado não só por mim como também pelo actual líder do PSD Passos Coelho. Basta até ter em conta que a chamada "lei da rolha", que foi aprovada num congresso do PSD com o voto da actual presidente da comissão política, foi, de imediato, rejeitada por Passos Coelho. Aliás, todo o discurso de Passos Coelho assenta na abertura do partido à sociedade civil com vista precisamente a evitar que o partido fique refém desta cultura de rebanho que tem as suas raízes no antigo regime e nos regimes totalitários. 

 

Em segundo lugar, quando aceitei ser candidato, disse expressamente que o meu compromisso era apenas com o projecto da candidatura autárquica à Câmara de Abrantes. E todas as pessoas que eu convidei foi com base no mesmo compromisso. Não só nunca perguntei a ninguém em quem costumava votar ou qual o seu partido do coração como também, àquelas que fizeram questão de mo dizer, lhes disse logo que isso não me interessava. Aliás, para que as pessoas compreendessem a filosofia que estava subjacente à candidatura "Amar Abrantes", repeti até à exaustão o provérbio japonês no qual eu me revejo:  "Quando há duas pessoas que pensam da mesma maneira, uma delas é dispensável". O objectivo era servir o concelho e as populações e não juntar um rebanho de ovelhas, acrítico e de pensamento único, para servir o partido. 

 

A TEIA 

 

Nova Aliança – Quais foram as principais causas da ruptura?  

 

Santana-Maia - A principal causa da ruptura foi explicada pela presidente da comissão política ao invocar os "altos interesses do partido" para me retirar a confiança política. É precisamente aqui que reside a grande fractura entre o PSD dos vereadores e o PSD da actual comissão política. No discurso da minha apresentação a presidente da câmara, no dia 28/10/2008, disse que, para pertencer à candidatura "Amar Abrantes", só eram necessárias três coisas: agarrar na consciência, endireitar a coluna e amar Abrantes. Ora, são precisamente estas três coisas que chocam abertamente com os fundamentos da actual comissão política. Estamos, assim, perante duas visões completamente diferentes de entender a política: para os vereadores do PSD, os interesses do partido têm de se sacrificar aos superiores interesses do concelho e dos munícipes; para a actual comissão política, os vereadores devem curvar-se perante "os altos interesses do partido". 

 

Nova Aliança - E desde quando começou essa ruptura? 

 

Santana-Maia - Essa ruptura começou no dia em que o plenário do PSD de Abrantes aprovou por unanimidade a minha candidatura a presidente da câmara. A unanimidade e o apoio expresso naquele momento por certas pessoas soou-me logo a falso, depois das histórias que me tinham contado. 

 

Devo dizer que, antes de aceitar o convite, quis ouvir a opinião de algumas pessoas amigas, porque desconhecia absolutamente a realidade do PSD de Abrantes. E verdade se diga todas me disseram o pior possível... No entanto, recordo aqui uma imagem que uma destas pessoas usou para me fazer perceber a razão por que se queria manter afastada do PSD de Abrantes e que, na altura, me apareceu algo exagerada mas que hoje constato retrata fielmente a realidade: «O PSD de Abrantes é uma teia urdida por três aranhas. E o senhor e eu somos apenas dois pequenos insectos. E escusa de olhar para as aranhas, porque mal se descuida está enredado numa teia formada por pessoas que se fizeram passar por seus amigos e nas quais confiou.»   

 

E não foi preciso esperar muitos dias para que isso se começasse a tornar evidente. Com efeito, na semana anterior à apresentação da minha candidatura, ou seja, na semana anterior a 28/10/2008, as três aranhas começaram a urdir a sua teia. E pondo a correr a insinuação caluniosa de que eu pertenceria a movimentos de extrema-direita, pressionaram o Gonçalo Oliveira, na altura presidente da comissão política concelhia, a forçar-me a renunciar à candidatura a favor de Belém Coelho, invocando motivos pessoais, o que só não aconteceu porque Belém Coelho, apesar de mal me conhecer, se recusou a alinhar nesta golpada e manteve o seu apoio à minha candidatura e aos compromissos já assumidos colectivamente pelo partido. A partir daquele momento, ganhei consciência do sarilho em que me tinha metido mas já era tarde para desistir, porque o compromisso estava assumido. 

 

AMAR ABRANTES  

 

Nova Aliança – A presidente da Comissão Política do PSD de Abrantes afirmou que o vereador Santana Maia “já não dispõe de condições para falar em nome do PSD”. Como será agora a sua vereação?  

 

Santana-Maia - Em primeiro lugar, nem eu, nem os vereadores eleitos pelo PSD, alguma vez falámos em nome do PSD. Nós falamos apenas em nome dos vereadores da Câmara de Abrantes que foram eleitos pelas listas do PSD com um programa eleitoral próprio que se comprometeram a cumprir, caso fossem eleitos. 

 

Quando aceitei ser candidato pelo PSD, impus apenas, como única condição, que o grupo de trabalho da candidatura fosse aberto a todas as pessoas, independentemente da sua filiação ideológica ou partidária, desde que respeitassem o seguinte princípio: os interesses do concelho de Abrantes e dos munícipes estavam acima de qualquer interesse partidário ou pessoal por mais importante que fosse. 

 

Foi com este espírito que nasceu a candidatura "Amar Abrantes", daí também a razão da escolha do nome, e é com este espírito que os vereadores eleitos pela candidatura "Amar Abrantes" vão levar até ao fim o seu mandato, honrando o compromisso que assumiram perante os eleitores e falando sempre a uma só voz, enquanto vereadores. 

 

AS DUAS MARGENS 

 

Nova Aliança – Afirmando o vereador Belém Coelho que “os vereadores do PSD são uma unidade indivisível” como será (após a retirada de confiança) a articulação entre os dois vereadores do PSD? 

 

Santana-Maia - A comissão política é uma coisa, os vereadores são outra. A comissão política representa os militantes; os vereadores representam os munícipes. As comissões políticas são constituídas obrigatoriamente por listas de militantes com quotas em dia, são eleitas pelos militantes e dependem directamente dos militantes, representados pelo plenário; os vereadores, pelo contrário, fazem parte do executivo municipal que é eleito pelos munícipes, não são obrigados a ter qualquer vínculo ao partido que apoia a lista pela qual se candidataram (a esmagadora maioria dos candidatos são independentes) e dependem dos eleitores do município, representados pela Assembleia Municipal. A comissão política é eleita por 30 ou 40 militantes; os vereadores do PSD são eleitos por mais de 5 mil eleitores indiferenciados.  

 

Os vereadores vão, consequentemente, continuar a trabalhar como trabalharam até aqui, preparando as suas intervenções como sempre fizeram. Ou seja, em conjunto com o grupo de pessoas que os assessoria, desde o início, mantendo os canais abertos com os eleitos e os representantes das diferentes freguesias e dando voz a qualquer munícipe que dela careça. É óbvio que seria importante, apesar das profundas divergências, manter a ponte entre a vereação e a comissão política. Tanto assim que os estatutos do PSD estabelecem que o primeiro vereador eleito tem lugar por inerência na comissão política. No entanto, face à dinamitação desta ponte pela comissão política, não nos resta outra alternativa se não trabalhar em margens opostas. 

 

O PSD DE ABRANTES 

 

Nova Aliança – Pretende concorrer aos órgãos do partido do PSD de Abrantes? (desafio lançado pela presidente da Comissão Política do PSD de Abrantes) 

 

Santana-Maia - Esse desafio, para mim, é ofensivo porque significa que a presidente me tem na mesma conta que ela. Eu aceitei ser candidato a presidente da câmara mas deixei claro, desde o início, que a política estritamente partidária não me interessa minimamente, nem tão pouco me reconheço nela, enquanto os partidos estiverem organizados com o único objectivo de ganhar eleições para servir as suas clientelas. Ainda acreditei, após as eleições autárquicas, que a comissão política do PSD de Abrantes pudesse romper com esta filosofia partidária e funcionar como um ponto de apoio aos eleitos locais no cumprimento do compromisso eleitoral que assumiram. Mas enganei-me completamente na pessoa a quem solicitei que desempenhasse essa tarefa. 

 

Além disso, estes dois últimos anos passados no PSD de Abrantes foram a experiência mais dolorosa que vivi nos meus 52 anos de vida. Não a desejo a ninguém. É uma cruz que se está a tornar demasiado pesada. Mas vou levá-la até ao fim. Agora nunca mais me falem do PSD de Abrantes. E dou um conselho: quem quiser viver bem com a sua consciência e de coluna direita, fuja do PSD de Abrantes. Caso contrário, vai ter de sofrer muito, se não quiser dobrar a espinha...   

 

Nova Aliança – Na sua opinião como vê o futuro do partido?   

 

Santana-Maia - O futuro do partido em Abrantes vai ser a continuação do seu triste passado. Muita conversa sobre ética e valores, muito discurso contra o PS, mas, na prática, tudo irá continuar a ser sacrificado no altar dos "altos interesses do partido" que, no fundo, a nível local, não são mais do que os baixos interesses de meia-dúzia dos seus militantes. 

 

Este PSD de Abrantes interessa, no entanto e objectivamente, ao PS local, razão por que pôde contar sempre com a sua estreita colaboração, apoio e incentivo, através, inclusive, dos órgãos de comunicação social que estão ao serviço dos socialistas, como é do conhecimento público. Além disso, esta situação também agrada, como é óbvio, ao PSD de Tomar, Torres Novas, Entroncamento e Santarém. Quanto pior representado estiver o PSD de Abrantes, melhor para eles. Como é evidente. 

 

ELEIÇÕES E COLIGAÇÕES 

 

Nova Aliança - Que expectativa tem das próximas legislativas? Que futuras coligações? 

 

Santana-Maia - Teria preferido que PSD e CDS se tivessem apresentado nestas eleições coligados. Teria sido melhor para Portugal a todos os níveis. Significaria, em primeiro lugar, que os dois partidos tinham sabido colocar os interesses nacionais acima dos seus interesses particulares. Em segundo lugar, teriam aparecido aos olhos dos eleitores com um programa comum e como a única solução de governo credível, o que ajudaria a clarificar a situação, matando à nascença as discussões marginais sobre as eventuais coligações pós-eleitorais, e seria um factor extraordinário de mobilização do eleitorado. Em terceiro lugar, a coligação PSD e CDS evitava que qualquer destes dois partidos se desviasse daquele que deve ser o verdadeiro imperativo nacional: derrotar Sócrates e este PS. 

 

No entanto, não coloco sequer a hipótese do PS vencer as próximas eleições porque isso revelaria um estado de demência colectivo que obrigava ao internamento psiquiátrico compulsivo do nosso país. Com efeito, não há ninguém, por muito estúpido que seja, que mantenha na direcção da sua empresa o director que a levou à falência. Só mesmo uma pessoa que sofra de graves perturbações mentais pode tomar uma decisão dessas. 

 

No entanto, devo dizer que as minhas expectativas relativamente ao futuro do país são muito baixas, mesmo com um governo PSD-CDS e por uma simples razão: vai ser impossível cumprir os objectivos que nos foram impostos pela troika. A fasquia foi colocada a uma altura que é impossível, por muito boa vontade que tenhamos, de a conseguir transpor. Os portugueses, a partir do próximo ano, vão ser sujeitos a um tratamento dolorosíssimo... As pessoas já se estão a queixar mas a maioria não imagina sequer o que aí vem. O verdadeiro sofrimento vai começar para o ano e por muito tempo. E, mesmo assim, não vamos conseguir cumprir os objectivos que a troika nos fixou pelo que a questão da reestruturação da dívida vai ter de se colocar, mais dia menos dia. Se a Europa não evoluir rapidamente para uma união política, o futuro de Portugal vai ser muito negro: muita miséria, muito sofrimento e nenhum futuro. Que ninguém se iluda.

 

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