AS REFORMAS ESTRUTURAIS
As reformas em Portugal são como um adorno clássico do ministério – como o correio, como os bordados da gola! Não são uma organização do país – são um pretexto da pasta.
Todo o ministro que entra – deita reforma e coupé. O ministro cai – o coupé recolhe à cocheira (= garagem) e a reforma à gaveta. (…)
Cada ministro tem a peito apresentar, classicamente, como um dever, como um documento, como uma justificação da sua nomeação – uma reforma.
Os jornais falam um momento, a oposição arranja umas certas representações na província contra elas, - as comissões instalam-se e metem os pés nos capachos para discutir – e no entanto o ministério, por uma intriga, por uma bambocha, por um enredo - cai – e a reforma segue-o na sua saída, com a fidelidade de um cão e a esterilidade de um boneco!
Isto foi escrito em 1872 (repito: 1872) por Eça de Queirós, em As Farpas.
Mas podia ter sido escrito hoje ou amanhã ou daqui a um ano.
Porque 140 anos depois, não há político português que não anuncie
a urgência das reformas e ministro que não tenha a pretensão de as implementar.
Para no fim, ficar tudo na mesma. Ou melhor, ficar pior.