Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

.

Agora que a factura apareceu à porta da República da Dívida Portuguesa, toda a gente fala sobre a necessidade de repartirmos os sacrifícios. (...)

.

Mas união e altruísmo não são o que mais se espera. (...)

.

Pelo contrário: o Estado era visto como uma entidade perpetuamente disponível em que o primeiro a chegar se servia. Os políticos eram escolhidos, não porque cortassem esta espiral autodestrutiva, mas porque a alimentavam o mais que podiam. Daí que os tais ganhos que hoje se revelaram ilusórios também não fossem propriamente sentidos como legítimos. A legitimidade não era tema que importasse à maioria que foi exigindo do Estado a satisfação das suas pretensões. O que contava eram oportunidades negociais, leis inamovíveis, privilégios de acesso ao poder, distribuição de rendas entre amigos e uma maciça compra do consentimento popular. Sabiam todos com que linhas o poder se cosia.

.

(...) Somos todos cúmplices da mesma mentira organizada de que iríamos conseguir suportar infinitamente uma despesa pública crescente com dívida pública.

.

Chegou por isso a altura de cada um destes grupos parar de olhar para o lado e pensar que a verdadeira triagem tem de começar dentro de casa. Foi do interesse dos funcionários públicos terem votado em dirigentes políticos que decidiram o aumento sem critério de funcionários excedentários, tantas vezes colocados como clientelas dos partidos? Foi útil para os trabalhadores de empresas públicas terem fechado os olhos à ausência de regras de disciplina financeira que só facilitaram o desperdício e a irresponsabilidade? Valeu alguma coisa aos portugueses terem sido tão sistematicamente negligentes com os políticos que elegeram em troca de paraísos impossíveis? Enquanto não se aperceberem das suas próprias ilusões e enganos, os grupos organizados que compõem a República da Dívida Portuguesa não estarão em condições de aceitar a vida nova que os tempos exigem.

.

Pedro Lomba - Público de 26/10/11