MORALISTAS
João Pereira Coutinho - Correio da Manhã de 28/1/2012
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Julgava eu que não havia coisa mais triste do que as declarações de Cavaco sobre as suas despesas. Afinal, há: as reacções às declarações de Cavaco.
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Sobretudo os pedidos de demissão que circulam por aí (palavra de honra) e uma ‘manifestação’ pindérica à porta de Belém, onde se ofereceram uns tostões ao Presidente, um pacote de arroz e, se a memória não me falha, uma caixa de pastilhas elásticas. O país nunca teve grandes elites, é verdade. Mas como produzi-las quando a matéria-prima é desta qualidade? Uma moralismo serôdio, onde quem exige honradez nunca se olha ao espelho da sua própria indignação. Os milhares que assinaram a petição contra Cavaco pagam impostos a horas? Estão totalmente inocentes na construção de uma dívida (privada) monstruosa? Compraram as ilusões socráticas mesmo quando a bancarrota era inevitável?
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Responder a estas e outras perguntas talvez mostrasse aos moralistas que o país também foi feito e desfeito por eles.