O jipe sagrado
Como foi amplamente noticiado, o Tribunal de Abrantes condenou, no passado dia 6 de Fevereiro, um jovem de 19 anos a 11 anos de prisão, pela prática de dezenas de crimes insignificantes (furto qualificado, roubo agravado, sequestro e agressão de algumas das vítimas, quer na sua própria residência quer na via pública) e um crime gravíssimo: o roubo do jipe da senhora presidente da câmara.
Como o leitor não pode deixar de reconhecer, o tema da Segurança tem sido uma das principais bandeiras dos vereadores eleitos pelo PSD, tal como já foi da minha candidatura à Câmara de Abrantes. Basta dizer que, sobre este tema, os vereadores eleitos pelo PSD, em apenas dois anos de mandato, já fizeram 18 intervenções escritas e duas conferências de imprensa.
A primeira conferência de imprensa, no dia 29 de Janeiro de 2010, teve precisamente a ver com estes jovens que foram agora julgados e no seguimento da inqualificável agressão a dois munícipes na Calçada de S. José. Conferência de imprensa que foi noticiada, designadamente, no jornal Mirante de 1 de Fevereiro de 2010 da seguinte forma:
«Os vereadores do PSD de Abrantes, Santana-Maia Leonardo e António Belém Coelho, criticam a “passividade” com a qual o actual executivo camarário, liderado por uma maioria socialista, tem tratado as questões de segurança no concelho, considerando que reina em Abrantes “um clima de terror”. Recentemente, foram assaltadas no concelho algumas escolas, duas casas particulares, a sede dos Escuteiros de Chainça e a Associação do Paúl. Algumas viaturas foram riscadas e sofreram danos mas o pico de violência aconteceu no sábado, 23 de Janeiro, quando pai e filha foram espancados por dois menores à porta de casa na Calçada de São José, quando tentavam defender a sua viatura de sofrer danos. (...)
Santana Maia-Leonardo considera que é necessária “uma liderança mais forte” e que a actual presidente de câmara, Maria do Céu Albuquerque (PS) devia “falar directamente” com os jovens que causam este tipo de distúrbios na cidade. O vereador social-democrata aponta ainda que a actual presidente da câmara deveria reunir com todos os responsáveis das forças de segurança de modo a assegurar uma maior vigilância das zonas onde os desacatos são mais frequentes como é o caso do Centro Comercial Millenium, Rua 25 de Abril e Calçada de São José.»
A esta tomada de posição pública dos vereadores eleitos pelo PSD, reagiram a senhora presidente da câmara e o Comando da PSP, em uníssono, com declarações e comunicados públicos onde afiançavam, a pés juntos, que Abrantes era uma cidade segura e que tudo não passava de invenções dos vereadores do PSD. E quanto ao falar directamente com os jovens em questão e respectivas famílias, então nem pensar...
Bem avisei, na altura, a presidente da câmara: a senhora recusa-se a enfrentá-los, qualquer dia arrisca-se a dar de caras com eles em sua casa. E assim foi. Maomé não foi à montanha, foi a montanha a Maomé. E foi o que bastou para que Abrantes passasse a ser uma cidade insegura e o comando da PSP e o Ministério Público dessem corda aos sapatos e agissem.
Só foi pena que os jovens não tivessem iniciado a sua actividade criminosa precisamente pelo assalto ao jipe da senhora presidente, porque, se tivessem começado por aí, estou certo, muitas vítimas teriam sido poupadas e a pena não necessitaria de ser tão pesada.
Em Vale de Rãs, pelo menos, já aprenderam a lição: