A ÉPOCA DO CARANGUEJO
José Pacheco Pereira - Público de 1/9/12
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(..) (O Governo) esqueceu-se que o PS pode aceitar tudo na televisão, desde que não desapareçam os mecanismos de controlo da comunicação social do Estado. A única privatização que o PS não aceita é a de tornar o "bloco central" na RTP propriedade do PSD, e, quando lá chegar, não haja nada no "pote". A lógica de poder partidário no PS é igual à do PSD. O que reforça um ameaça o outro. O PS está-se nas tintas para os Estaleiros de Viana do Castelo, ou a TAP, ou a ANA, mas não se está nas tintas para o controlo da comunicação social pelo PSD. Admite que o PSD, enquanto governa, manda mais do que o PS na comunicação social do Estado, mas quer, quando lá chegar, ter disponíveis os mesmos meios de controlo, para ser a sua vez. É esta relação que tem sido o seguro de vida da RTP. (...)
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Uma das novidades desta nova fase da governação é que os recuos vão ser muito mais visíveis. Alguns são cosméticos, quando há interesses ocultos mais poderosos do que o tumulto do protesto visível, mas o tempo do recuo e da debandada já começou. Nas autarquias, nas Forças Armadas, nas escolas, nas fundações, nas PPP, nas medidas de "moralização" do Estado, até nas Finanças, nas mil e uma alterações a posteriori de diplomas que o Governo considerava estruturais, e que, ou por terem sido mal feitos, ou porque geraram reacções duras, estão a ser modificados discretamente. Como a RTP revelou, onde ninguém assume responsabilidade de nada, começou a época do caranguejo.