29 Abr, 2009
A ditadura da maioria nas Mouriscas
Num Edital da Junta de Freguesia, podia ler-se, como sendo um ponto da ordem de trabalhos, «permuta de caminhos no Casalão». Embora o edital não especificasse a tal permuta, o certo é que se soube de que permuta se tratava e, em vez das habituais duas ou três pessoas a assistir à Assembleia de Freguesia, estavam cerca de uma quinzena.
No período antes da ordem do dia, as intervenções de fregueses dirigiram-se, entre outros assuntos, contra a alteração dos caminhos a que se referia o edital, justificando-o, nomeadamente, com um traçado propício a uma maior sinistralidade e inviabilizante da circulação de veículos pesados. Findo este período, os trabalhos incidiram sobre outros assuntos da agenda, vindo depois a lume novamente a aludida permuta dos caminhos. Pela palavra do Presidente da Junta, foi reportado o grande relevo da empresa JJR para a freguesia de Mouriscas, como entidade empregadora (a maior da aldeia) e o grande relevo desta empresa para a terra, que iria ali construir uma zona industrial… Argumentos corroborados pelo Presidente da Assembleia
Os dois deputados da oposição, aquando do uso da palavra e assumindo que nada os opunha, quer à JJR, quer ao Presidente da Junta de Freguesia, argumentaram que ali não havia empregados de Mouriscas. E como era possível que, em poucos anos, um pequeno depósito de inertes dentro de uma povoação se pudesse transformar numa britadeira com tal dimensão e tão poluente? A apresentação desta proposta pela Junta de Freguesia tornava por demais evidente que só a empresa JJR e a Junta tinham interesses nesta permuta.
Atendendo ao descontentamento evidenciado pelos presentes e o desconhecimento do desagrado público, deveriam ter sido interrompidos os trabalhos e ser marcada uma assembleia extraordinária com a audição dos possíveis lesados, até porque, se a proposta fosse aprovada, já existiam pessoas dispostas a recorrer ao tribunal.
Da assistência ouviam-se frases como: “as minhas oliveiras estão todas queimadas com o pó”, “duas pessoas que ali moravam tiveram que sair”, “os terrenos naquela zona foram todos desvalorizados”, “o novo caminho vai ser um inferno de acidentes”…
A proposta foi votada e aprovada pela maioria CDU.
Cá fora, entre acusações menos bonitas, alguém diz: Catarino isto que aqui se passou tem que ser divulgado. É que o Presidente da Junta trocou o povo de Mouriscas por uns restos de alcatrão, que o JJR teria que pôr numa lixeira, e que ele aproveita para tapar uns buracos nos caminhos da terra.
Agora não podemos deixar de nos interrogar:
O que levará uma Junta de Freguesia a representar uma firma, contra a vontade das pessoas que a elegeram e que publicamente testemunham estar a ser lesadas no seu património, na sua saúde e na sua segurança?
Será que é razoável acreditar que por uns camiões de materiais e uma possível indução ao voto se desprezem as pessoas?
Será que votar nos obriga a pagar sempre um preço?
Manuel Catarino