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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Os portugueses têm sempre por hábito fazer apelo à seriedade dos árbitros e afins como se residisse aí a solução do problema da parcialidade dos decisores.

É evidente que a seriedade ajuda muito mas isso não é legislável, nem quantificável, nem se consegue regulamentar até porque toda a gente é mais ou menos séria consoante as circunstâncias. Se estiver em causa, por exemplo, a vida dos filhos ou o próprio emprego, para não baixarmos demasiado a fasquia, poucas pessoas colocarão a seriedade acima de tudo.

Ou seja, o contexto em que uma pessoa se encontra é fundamental para garantir a sua liberdade de decidir. E em Portugal, isso não existe.

Por exemplo, num jogo Vitória - Braga, se se nomear um árbitro de Faro, o árbitro sai de Faro e regressa a Faro sem sentir qualquer pressão. No entanto, se um dos intervenientes for o Benfica ou o Sporting, isso já não sucede. Até dentro da própria casa se cruza com adeptos destas equipas (mulher, pais, filhos, tios, primos, sobrinhos, etc), para já não falar no local de trabalho ou no café.

Discutir o VAR ou a independência da arbitragem em Portugal não faz sequer sentido porque não estão criadas as condições mínimas para garantir a independência e imparcialidade dos decisores.

Quais são essas condições mínimas?  Vou dar um exemplo que toda a gente percebe. Se eu tiver uma questão com o meu vizinho, o juiz, por muito competente que seja, não pode ser nem da família do meu vizinho, nem viver na casa dele. Ou seja, um árbitro para arbitrar um jogo do Benfica e do Sporting não pode viver numa casa onde vivem benfiquistas e sportinguistas, nem viver cercado, no local de trabalho e no café, por benfiquistas e sportinguistas porque isso condiciona necessariamente a sua liberdade de decidir com imparcialidade, isenção e independência.

É precisamente por essa razão que árbitros portugueses não arbitram a selecção portuguesa ou equipas portuguesas em competições internacionais.

Concluindo: tendo em conta que há, pelo menos, 6 milhões de benfiquistas e 4 milhões de sportinguistas, tal significa que só árbitros estrangeiros reúnem condições para poderem arbitrar jogos Benfica, Sporting e Porto com imparcialidade, isenção e independência.

Isto não significa que não possam cometer erros graves, significa apenas que têm liberdade para decidir sem estarem condicionados, o que é essencial para a salvaguarda da integridade das competições.

Chamo a atenção para o facto de sermos o único país da Europa, segundo o estudo da UEFA de 2015, onde é impossível nomear um decisor de qualquer parte do território nacional cuja população não seja maioritariamente afecta ao Benfica, Sporting e Porto (95%). Isto vicia tudo!

Santana-Maia Leonardo - in Diário  As Beiras de 8-7-2019