Agora que ele está preso
Manuel Carvalho - Público de 30-11-2014
(...) Mas se a condenação prévia, directa ou velada, que abundou por aí nesta semana é deprimente, a tentativa de olhar tudo o que aconteceu como a revelação de um sistema judicial injusto ou até totalitário não o é menos. O desvio do centro do problema para a detenção de José Sócrates, a prisão preventiva ou as violações do segredo de justiça pode resultar de uma compreensível exigência sobre o funcionamento imaculado da máquina judicial, mas acaba por não atender a um facto inultrapassável: o procurador e o juiz de instrução fizeram o que entenderam dever ser feito e não há nas suas diligências nada que legitime a suspeita de prática de abusos.
José Sócrates foi discretamente detido à saída de um avião, ninguém o filmou nesse momento, não foi visto com algemas, teve oportunidade de responder a um interrogatório, foi assistido por um advogado, pôde ditar-lhe uma carta a proclamar a sua inocência. Teria sido melhor que fosse intimado a prestar declarações, que o fizesse sem ser sujeito a detenção prévia ou que pudesse aguardar o desenvolvimento do inquérito em liberdade? Não sabemos. Quem tem toda a informação para decidir optou por diligências e medidas de coacção severas e sobre isso não há nada a dizer para já. (...)