BE - Intervenção na cerimónia do 25 de Abril
Armindo Silveira - deputado municipal de Abrantes do BE
Passados 40 anos da Revolução de Abril, olhamos à nossa volta e sentimo-nos impotentes perante as múltiplas mudanças em sentido contrário à data que hoje celebramos.
Os processos e a implementação de certas politicas já “amadureceram” o suficiente permitindo-nos analisar com lucidez os resultados. Revelam-se partidos, caras e nomes dos que executaram as políticas que já nos retiraram muitas das conquistas de Abril. A bibliografia é vasta….
O livro, “Os Donos de Portugal”, retrata o percurso de mais de cem governantes que, desde 1975 até 2010, desempenharam ou desempenham funções relevantes em grandes empresas. Centenas de figuras ficaram de fora pois este é um grupo restrito que abrange apenas ministros e secretários de Estado de sectores estratégicos tais como finanças, economia e obras públicas. Abundam dirigentes de primeiro plano, parlamentares ou autarcas do PS, PSD e CDS.
Esta é apenas uma ponta do véu que esconde a promiscuidade entre a política e os negócios envolvendo figuras dos denominados partidos do “arco do poder”. Talvez, assim, se justifique que PS, PSD e CDS tenham chumbado, já neste mês de Abril, uma proposta do Bloco de Esquerda que propunha o regime de exclusividade para os deputados na Assembleia da Republica.
“Quem paga o Estado Social em Portugal” prova com números e factos que os trabalhadores portugueses contribuem para o Estado Social com o necessário para pagar a sua saúde, a educação, o bem-estar e as infra-estruturas. Diariamente, uma cáfila de comentadores políticos e outros assalariados mentem, vergonhosamente, todos os dias, na comunicação social e em outros palcos, propagando que o Estado Social não é sustentável.
“A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes” reconstrói um percurso com inicio nos anos 1990. O governo de então, do PSD, chefiado por Cavaco Silva, iniciou um processo de privatizações de quase todas as empresas financeiras e não financeiras do Estado. Esta estratégia, reforçada por uma onda de liberalizações e desregulamentação, por continuas privatizações, contractos ruinosos, obras fantasmas, estradas sem fim, subsídios milagrosos, foi prosseguida pelos Governos, tanto de PS, como de PSD/CDS, o que se revelou altamente lesivo para os interesses nacionais, culminando com a entrada da Troika em Portugal em 2011.
Desde então, intensificaram-se os ataques aos direitos e liberdades a toque de uma malograda Troika que nos mantém agrilhoados a uma maioria política medíocre com uma vontade que é fraca com os fortes e forte com os fracos.
Tudo se vai perdendo em nome da austeridade. Apresentada como a única alternativa para a superação de um país em dificuldades, os seus resultados estão à vista de todos e de todas…afinal, o país está melhor…. os portugueses e portuguesas é que não!
De que é feito um país, senão das suas gentes? Que sentido tem a governação se não for feita para o povo?
No plano económico e social, a austeridade é a linha condutora num processo de transformação política que ameaça tornar-se permanente: depois da ditadura da Troika, segue-se a ditadura do Tratado Orçamental Europeu, tratado este, que nunca foi discutido, nem referendado pelo povo português.
Um povo iludido com sucessivas mentiras… Um povo chocado com a insensibilidade de um governo e de um quase invisível Presidente da República.
“Tudo somado, o que irei receber do fundo de pensões (…) quase de certeza que não dá para pagar as minhas despesas” – lamentou-se Cavaco Silva dos parcos 11 mil e tal euros que já aufere.
“Eu já ouvi o primeiro-ministro [José Sócrates] dizer que o PSD quer acabar com muitas coisas… também com o 13º mês... Mas nós nunca falámos disso. Isso é um disparate”;
“Não contarão [com o nosso apoio] para mais ataques à classe média em nome dos problemas externos. Nós não olhamos para as classes de rendimentos a partir dos mil, mil e poucos euros, dizendo - aqui estão os ricos de Portugal…agora paguem a crise!».
“Nós não podemos aumentar a receita aumentando mais impostos. Porque cada vez que tivemos um problema de finanças públicas em Portugal nos últimos anos, a receita foi sempre a mesma. Foi pôr as famílias e as empresas a pagar mais impostos!”, - refere Passos Coelho, escandalizado, em plena campanha de assalto ao poder nas Legislativas de 2011.
A custo, disfarçamos um grito de revolta perante a mentira, a submissão, a hipocrisia, a corrupção e a manipulação generalizada.
Sim… são palavras fortes… mas mais fortes são os momentos em que nos sentimos enraivecidos e impotentes perante quem nos quer manipular contando com uma Comunicação Social dominada, manietada, submissa e incapaz de exercer com rigor o seu trabalho. Até certas palavras já perderam o sentido e foram aprisionadas pelos sucessivos “vendilhões do templo”.
O empobrecimento de largas franjas da população e a asfixia da democracia, é incompatível com o 25 de Abril e com as suas conquistas. A asfixia política, por via da mordaça imposta a todas as alternativas que recusem a ditadura da austeridade, ameaça a Liberdade.
Seja a nível nacional, regional ou local continuamos a presenciar um sinistro desfile de cargos, cunhas, nomeações, avenças e lugares em que as cores não se distinguem e os discursos soam iguais. Tudo vale, tudo é efémero, numa luta pela conquista, preservação, destruição e reconquista do poder dos homens sobre os homens. Será que ainda podemos decidir a forma de sermos escravizados?
Passados 40 anos da Revolução de Abril é urgente relembrar:
Os gritos dos prisioneiros que sucumbiram às mãos da PIDE;
O silêncio das almas dos militares que perderam a vida em Africa;
A angústia dos estropiados de guerra que em paz não estão em paz;
Os sonhos de famílias destruídas;
Os milhares de trabalhadores explorados por homens que deixaram descendentes;
As crianças, os adultos e os idosos que andavam descalços, rotos e famintos;
Os que emigraram sem o desejarem;
Os verdadeiros Militares de Abril;
O medo, o desespero e a angústia crescente escondidos em cada porta;
As famílias que antes do fim do mês já não têm que comer;
Os doentes que esperam horas ao frio e à chuva por uma consulta médica;
Os que se deslocam a expensas próprias a serviços públicos que outrora estavam próximos;
Os deficientes e muitos idosos que não são mais que um negócio;
O milhão e quatrocentos mil desempregados;
Os jovens sem futuro;
A proliferação de cantinas sociais;
E segue uma caravana engalanada por gritos de dor, sofrimento, miséria e destroços humanos;
Queremos ouvir e olhar nos olhos os envolvidos nos processos BPN; BCP; Face Oculta; Portucale; Monte Branco; Cova da Beira; Freeport; Correios de Coimbra; caso dos Submarinos; Swaps; PPP´s e tantos outros;
Queremos olhar nos olhos os que defendem que 485€ mensais são suficientes para sobreviver;
Está alguém nesta sala que se identifica?
Queremos olhar nos olhos quem aufere reformas milionárias com escassos anos de actividade.
Está alguém nesta sala que se identifica?
40 Anos depois da Revolução dos Cravos, o país está a ser desmembrado e vendido perante a cumplicidade de todos nós.
Alguma vez pensámos quais as consequências de imputar uma divida a um recém-nascido? Será este o mundo que lhe reservamos nós, aqueles que deveríamos garantir os valores de Abril?
Por isto tudo e muito mais, o Bloco de Esquerda, nunca se calará e lutará sempre e em qualquer circunstância pela justiça, pela equidade, pela igualdade e pela dignidade humana.
PELO BLOCO ESQUERDA, O 25 DE ABRIL NUNCA MORRERÁ!!!
VIVA O 25 DE ABRIL – 25 DE ABRIL SEMPRE
VIVA O 25 DE ABRIL – 25 DE ABRIL SEMPRE
VIVA O 25 DE ABRIL – 25 DE ABRIL SEMPRE