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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

José Pacheco Pereira - Público de 6-6-2015

(...) Na verdade, no confronto entre dois “passados”, o de 2011 e o de 2015, o de 2011 permanece mais oneroso, em parte porque foi realmente oneroso, mas também porque a crítica ao “passado” de 2015 precisa de ser feita com uma verdadeira alteridade de discurso e não com as meias-tintas do PS.

Podia-se dizer que isso acontece com o PDR, BE, o Livre, mas não é verdade. Em todos estes casos há um excesso de umbiguismo e sectarismo que impede a existência de uma verdadeira oposição a este Governo. O PDR não se sabe o que quer e, entre a tentação do populismo e um real boicote comunicacional de que é vítima, permanece num limbo cujo futuro dependerá das eleições de 2015. É pouco. O BE está numa crise quase terminal e nada é pior do que se ser baço depois de se ter brilho. Sobrevive de algumas personalidades no Parlamento, como Mariana Mortágua, mas fora disso é mais uma organização contracultural do que um partido político. O Livre/Tempo de Avançar roubou imensos quadros ao BE, mas está enredado em procedimentos burocráticos internos, que entretêm a tribo, mas que nada significam para fora. Quer o BE, quer o Livre estão também presos em variantes de esquerda do europeísmo que os impedem de dar a devida atenção à gravidade da crise da democracia que vem da União Europeia. A facilidade com que deixaram cair os gregos mostra também pouca firmeza de posições e a incompreensão das ameaças europeias.

O PCP é uma excepção a este puro umbiguismo, mas escapa-lhe apenas pela sua dimensão e composição social e não pelo fechamento do seu discurso. O PCP há muito abdicou de fazer um discurso para fora de si próprio e o que tem feito é explorar, com sucesso, aliás, um crescimento e uma consolidação interior às suas próprias fronteiras. É um monólito pesado e firme, que solidifica uma resistência social por via sindical, que muitas vezes é incómoda para o Governo, mas que tem como efeito bloquear também qualquer movimentação mais ampla. É duro e inflexível, mas não é útil para que em Portugal haja movimentações populares mais amplas do que o seu próprio terreno e, por isso, Portugal não é a Grécia, nem a Espanha, nem a Itália.

O resultado é que muitos portugueses não se sentem representados no sistema político. Esses portugueses foram os alvos do “ajustamento” dos últimos anos. Uma parte importante é aquilo a que se chama "classe média", mas não só. São todas as pessoas com quem um governo que as desprezava actuou de má-fé. Esses portugueses são de esquerda e de direita, para usar as classificações tradicionais, e não são só “de esquerda”. Tratados como o sendo pela linguagem sectária do PCP ou do BE, ficam alienados e isolados, pasto do populismo, ou, ainda pior, da apatia e anomia política. E são esquecidos pelo PS, que tem medo de, ao falar por eles, cair no anátema de ser um Syriza nacional.

Este Governo e esta coligação não mudaram – esta é a herança de 2015. Estão mansos, em modo eleitoral, mas são os mesmos e, acima de tudo, não conhecem outras soluções senão as mesmas que aplicaram com zelo ultratroikista. Os seus alvos não mudaram, os seus amigos não mudaram, a sua ideia de um Portugal singapuriano não deixou de existir, bem pelo contrário. A sua visão da economia tem os trabalhadores apenas como força de trabalho que deve ser barata, cordata e não fazer greves. Debaixo dos 600 milhões do PEC estão os cortes nas pensões em pagamento. Debaixo do palavreado sobre a “reforma do Estado” estão despedimentos e cortes salariais e por aí adiante. E é por isso que não há programa eleitoral: há Linhas de Orientação para elaboração do Programa Eleitoral que não são “linhas”, nem de “orientação”, nem “elaboradas”, nem “programa eleitoral”. Dizem apenas: votem na avozinha e não vejam o lobo mau por baixo do disfarce.

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