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COLUNA VERTICAL

"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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"A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.." (Aristóteles)

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Em Março do ano passado, quando foi decretado o estado de emergência e toda a gente exaltava o comportamento exemplar de Portugal e dos nossos governantes no combate à pandemia, eu chamei a atenção para o facto de estarmos perante uma prova de maratona e não uma corrida de 100 metros pelo que arrancar a alta velocidade nem sempre é a decisão mais inteligente. “Isto não é como começa, mas como acaba”.

Neste momento, numa fase crítica do combate à pandemia, Portugal é já um dos piores países do mundo. E a realização das eleições presidenciais, nas circunstâncias actuais, em pleno pico da pandemia e quando os serviços de saúde estão à beira da ruptura, revela uma irresponsabilidade e um desprezo pela vida humana, quer pelo mau exemplo que dá, quer pelos riscos que obriga as pessoas a correr, que coloca os nossos responsáveis políticos no mesmo patamar de Bolsonaro.

E, quando ouço o argumento da Constituição para justificar o não adiamento das eleições presidenciais, só me vem à memória a célebre frase de James Carville, nas eleições americanas de 1992: “É a economia, estúpido!

Hoje não há um único português, basta consultar as redes sociais, que não seja um verdadeiro constitucionalista, mesmo que nunca tenha lido a Constituição ou sequer saiba o que isso seja,  garantindo, com uma convicção religiosa que não admite contraditório, que não é possível adiar as eleições presidenciais, porque a Constituição não permite.  É extraordinário como a maioria dos portugueses reproduz aquilo que lhe impingem, sem sequer fazer um esforço para verificar se tem alguma razoabilidade.

Se querem saber a minha opinião, a Constituição não só permite o adiamento das eleições presidenciais por causa da pandemia como a sua realização no próximo domingo viola, de forma grosseira, dois direitos sagrados da Constituição: quer o direito à vida, quer a integridade das eleições. Aliás, num país onde as chapeladas são prática corrente nas eleições partidárias e em algumas freguesias rurais, transportar as urnas de voto aos lares é abrir a porta à fraude eleitoral.

Se o Presidente da República, com o apoio do Governo e dos partidos com assento parlamentar, decidisse adiar as eleições, qual é que era o problema? É inconstitucional? Proteger a vida dos portugueses e evitar a tragédia iminente da ruptura do sistema de saúde é inconstitucional?

Não gozem comigo! E sabem por que razão a Constituição permite o adiamento das eleições, nestas circunstâncias? Por causa da pandemia, estúpido!

Santana-Maia Leonardo