Em defeso do pluralismo euro-atlântico
João Carlos Espada - Público de 26-5-2014
(...) No plano europeu, a leitura dos resultados eleitorais constitui uma excelente ocasião para confrontar duas visões igualmente pró-europeias, mas fundamentalmente distintas: uma monista, tendencialmente dominante nos círculos pró-europeus, e uma pluralista.
A visão monista supõe que a causa europeia tem apenas um modelo possível: o da sempre crescente integração e centralização supranacional. Poderão existir divergências quanto ao ritmo e às modalidades dessa integração, mas não pode haver dúvidas quanto ao modelo a perseguir: o de "uma união sempre mais integrada".
A visão pluralista, pelo contrário, entende o projecto europeu sobretudo como um quadro de regras gerais, não como um modelo fixo e pré-determinado que deve ser atingido a todo o custo. A visão pluralista olha com cepticismo o modelo de sempre maior integração supranacional, frequentemente associada à expressão "Mais Europa". E receia que esse modelo na verdade possa ter como resultado "mais Europa com menos europeus". (...)
A preservação da União Europeia, enquanto casa comum das nações europeias, dificilmente será possível sem um entendimento pluralista do projecto europeu, em articulação com a dimensão atlântica. Foi a aliança euro-atlântica que garantiu a paz e a prosperidade na Europa desde o final da II Guerra. Chegou de novo a altura de recordar e defender o pluralismo euro-atlântico contra os sonhos monistas de uniformização – quer continentais, quer eventualmente insulares.