Estou-me a tornar racista
Marega conseguiu demonstrar a este povo conformista, hipócrita, que faz leis contra o racismo, a discriminação, a corrupção e a violência no desporto “para-Europa-ver” mas que não só não as aplica como é conivente, promove e pactua com as maiores aberrações no que diz respeito a todo o tipo de discriminação, que UM ÚNICO INDIVÍDUO COM TOMATES é capaz de pôr a falar fininho e em coro um país inteiro desde o Presidente da República até ao porteiro de uma boîte onde é proibida a entrada a pretos e a ciganos.
É por esta razão que me estou a tornar cada vez mais racista.
Com efeito, já não suporto esta raça de vermes viscosa e peganhosa que se agarra à sola dos sapatos de todos os chefes e senhores presidentes do que quer que seja e que finge que é gente com valores e coluna direita quando um indivíduo como o Marega tem a coragem de exibir ao mundo inteiro os pés de barro da descomunal hipocrisia em que assentam todas as nossas instituições e que tão ilustremente são presididas pelos maiores hipócritas de que há memória.
Querem maior cinismo e hipocrisia do que ver debater o episódio do Marega, ocorrido num jogo com o Vitória de Guimarães, em nome da luta contra a discriminação, em programas de verdadeiro apartheid desportivo, interditos a adeptos que não sejam do Benfica, Sporting e Porto?
Querem maior discriminação e maior violação do mais elementar direito ao contraditório que se concede a qualquer ser humano numa sociedade civilizada do que assistir a programas desportivos, com a presença de comentadores-adeptos do FC Porto, onde se procede à lapidação, sem direito a defesa, dos adeptos do Vitória de Guimarães e do clube, sem que um comentador do Vitória de Guimarães esteja presente, mais que não fosse para usar o argumento de Cristo: “o clube cujos adeptos nunca usaram cânticos racistas que atire a primeira pedra”?
Quando será que os adeptos e os clubes portugueses que são ostracizados, discriminados e tratados piores do que macacos, ou seja, abaixo de cão, têm um mínimo de amor-próprio e de respeito pelas populações que representam (ou será que não representam ninguém?) para abandonar o estádio da Luz, do Dragão e de Alvalade, como Marega fez, em sinal de protesto pela forma discriminatória como são tratados todos os dias e a todas as horas neste país, se é que isto ainda se pode chamar um país?
Santana-Maia Leonardo - Diário As Beiras de 2-3-2020