Santana-Maia Leonardo - Sócio n.º338 do VFC
Os vitorianos não podem olhar para o Vitória como se o Vitória fosse um pequeno clube de bairro ou uma agremiação de jogo da sueca.
A Uefa publicou em 2015 três estudos muito importantes para compreendermos a realidade do futebol português e qual o verdadeiro problema do campeonato português, em geral, e do Vitória, em particular.
Esses três estudos são os seguintes: I) Média de assistências a jogos de futebol por país. II) Distribuição das receitas televisivas por país. III) Percentagem de adeptos por clube por país.
Trata-se, no fundo, de três estudos de mercado essenciais para perceber a nossa realidade. Sem conhecer o doente e a doença, não vale a pena avançar ou sugerir tratamentos.
O futebol português é, aliás, o espelho da sociedade portuguesa. Basta olhar à nossa volta, quer para os clubes, quer para os partidos, quer para as empresas, quer para o sector financeiro, quer para as associações de solidariedade social, quer para as associações de bombeiros, quer para a comunicação social, para constatar, até pelo cheiro, que o nosso país está em adiantado estado de decomposição onde apenas os vermes conseguem sobreviver. E é muito difícil salvar o doente quando o doente já morreu... Esperemos que não seja o caso do Vitória.
Analisando esses três estudos, constatamos que Portugal é o único país da UE onde não existe centralização dos direitos televisivos e o país da UEFA onde é maior o fosso na distribuição das receitas televisivas entre os clubes mais ricos e os restantes.
Quanto à média de espectadores por jogo, a liga portuguesa tem uma média de espectadores inferior à II Liga inglesa e alemã, apesar de a média dos jogos na Luz, Alvalade e Dragão estar próximo da média das ligas com mais espectadores.
Agora passemos à análise da relação entre adeptos e clubes por país.
O clube mais valioso do Mundo é o Manchester United e a sua percentagem de adeptos em Inglaterra é de 14%, a maioria concentrada na região de Manchester. É mais ou menos isso que acontece em toda a Europa. Mesmo em Espanha, o Real e o Barça juntos têm apenas 33% dos adeptos espanhóis e concentrados em redor das respectivas cidades.
E em Portugal como é? Só o Benfica tem 47% dos adeptos e o Sporting e Porto os outros 47%. Com a agravante de a massa adepta do Benfica e Sporting estar distribuída por todo o território nacional. Isto significa que é impossível realizar uma competição limpa em Portugal porque não é possível sequer encontrar clubes que não estejam infiltrados por adeptos, sobretudo, do Benfica e do Sporting. E sem clubes e decisores independentes (conselhos de arbitragem, de Disciplina, de Justiça, árbitros, delegados e observadores) não é possível realizar uma competição limpa.
Portugal é um caso único no mundo em que não é necessário haver corrupção porque a competição, tal como os concursos públicos nas câmaras e no país, está corrompida à nascença. Isso resulta claramente da leitura dos e-mails do Benfica e, se repararem, da própria defesa do advogado do Benfica. Para haver corrupção, é necessário haver estruturas independentes. Ora, em Portugal, estamos numa fase anterior onde não é necessário haver corrupção porque os decisores são colocados pelos clubes-monopólio (e nos concursos públicos, pelo partido que governa) e agem ao seu serviço.
Deixo-vos aqui, a título de exemplo, a distribuição dos direitos televisivos da melhor liga do mundo: a inglesa. O primeiro não chega a ganhar o dobro do último.