Não é da COVID-19 que eu tenho medo...
Mas que as democracias europeias voltem a produzir gente em número suficiente para levar ao poder os extremistas. Sendo certo que a frágil democracia portuguesa apenas se mantém de pé porque está a ser paga a peso de ouro pela União Europeia.
Todo o povo que foi criado amarrado à manjedoura não só não consegue sobreviver em liberdade como tem medo da liberdade. E o povo português, recorde-se, viveu 300 anos sob o jugo da Inquisição e 60 anos sob a ditadura do Estado Novo. Os portugueses, no seu inconsciente, associam a Liberdade às fogueiras da Inquisição e ao Tarrafal, Aljube, Peniche e Caxias, porque era esse o destino de quem não aceitava sujeitar-se ao poder despótico dos inquisidores e dos ditadores.
E hoje o fanatismo, cheio de ódio, lugares comuns e apelo ao poder do povo, é uma mancha que está a alastrar rapidamente pelas redes sociais e já tomou conta do discurso acéfalo e de cruzada dos três clubes que representam 97% da população portuguesa.
Acresce que a COVID-19 veio demonstrar aquilo que Miguel Torga já tinha concluído. Nós somos um povo que teme a Liberdade e que procura ansiosamente por um pastor que o guie.
Como dizia Miguel Torga, "a liberdade não é um dote, é um dom." A liberdade não se dá, nem se conquista. Faz parte da essência de cada um de nós.
Há homens que nasceram para ser livres e outros para ser ovelhas, como explicou Tocqueville: "Aqueles que pedem à liberdade algo mais do que a própria liberdade são feitos para servir."
Santana-Maia Leonardo