O PSD e a classe média
O memorando da troika fez-me acreditar que PSD e CDS não iriam perder a oportunidade única de levar a cabo as reformas estruturais essenciais para tirar Portugal do fundo poço onde tinha sido enfiado pela associação de malfeitores que nos tinha governado até então. E o anúncio de Passos Coelho de que pretendia ir além da troika ainda me fez acreditar mais na vontade reformadora do Governo.
Não foi, no entanto, preciso esperar muito tempo para perceber que a expressão “ir além da troika” usada por Passos Coelho não tinha nada a ver com as reformas estruturais de que o país carecia, mas com o esmifrar da classe média e das pequenas e médias empresas até à indigência e à insolvência, ao mesmo tempo que reduzia Portugal à cidade Lisboa-Porto, a sua idealizada Singapura.
Como ensinou Aristóteles e os governantes do PSD e do CDS não podiam deixar de saber, “A estabilidade das repúblicas depende, essencialmente, quer do apoio das classes médias, quer da atenção dada à situação difícil e penosa dos pobres.”
Acontece que, perante a desgraça e a miséria crescente, ainda tínhamos de gramar com a cínica justificação, repetida até à exaustão, como se fôssemos todos analfabetos e estúpidos, de que “Não havia alternativa”.
Acontece que Mário Centeno, num governo socialista aliado à extrema-esquerda, demonstrou que era possível reduzir o défice a zero e criar superavit com o simples controlo da despesa pública (que era precisamente o que Passos Coelho prometeu que ia fazer, quando se candidatou), sem necessidade de reduzir brutalmente os modestos rendimentos da classe média portuguesa.
Depois das profundas cicatrizes que deixaram com a sua desumana governação, não é possível o PSD e o CDS voltarem a merecer a confiança da classe média, nem dos pequenos e médios empresários.
Santana-Maia Leonardo - A Ponte de 6/6/2022