O tempo e o modo
Vasco Pulido Valente - Público de 18-10-2014
Se este Orçamento foi pensado como um exercício de reabilitação e propaganda, falhou. (...)
O ressentimento, o rancor, o puro ódio que se acumularam – e que as cenas dos políticos dia a dia acirram – não desaparecem com o falso alívio que o Orçamento pretende trazer. Nada de fundamental mudou e principalmente não mudou a maneira como a nossa vida se cozinhou em reuniões secretas, de que simbolicamente não conseguimos saber coisa nenhuma. A cena, de resto, conduzida e representada por indivíduos que não se distinguem pela inteligência, incluiu números de pura pornografia: a diatribe do primeiro-ministro contra o “fanatismo orçamental”; a “fiscalidade verde” para seduzir uma população sem trabalho e uma juventude sem carreira; e a junção a essa sopa turva de uma súbita preocupação com a natalidade para sublinhar os pequenos descontos no IRS, que supostamente exprimem o amor do Governo pela Pátria e pela família. O Orçamento não chegou a tempo, nem veio num modo susceptível de amansar o putativo eleitorado de 2015. A julgar por ele já não está em causa a sobrevivência da maioria, está em causa a sobrevivência do PSD e do CDS.