Os jihadistas e relações internacionais
O Islamismo tem por base cinco pilares: Fé (Shahada); Oração (Salah); Peregrinação (Hajj); Caridade (Zakah); Jejum (Savm). Este texto não diz respeito àqueles que aceitam os cinco pilares da sua fé, mas apenas aos Estados islâmicos, organizações, grupos e indivíduos que adoptam seis pilares da fé islâmica. Ou seja, há um determinado número (que não é assim tão pequeno) de muçulmanos que adopta a "guerra santa" (Jihad) como o sexto pilar, mantendo os cinco pilares da fé islâmica acima mencionados essencialmente iguais. Para estes, a Jihad não é apenas um apelo ocasional do califa a todos os muçulmanos para se envolverem na "guerra santa", mas muito mais que isso.
Jihad é uma obrigação (wayib) dos fiéis e significa empenhar todos os seus esforços para servir a nação islâmica (umma), o califado e o próprio Deus. É um chamado para mobilizar todos os meios, forças e poder dos indivíduos para alcançar um objetivo maior, que é a difusão da fé (fatah). Com esse propósito, cada crente deve fazer o seu melhor: usar todos os meios de que dispõe para converter os hereges (kuffar - todos os não-muçulmanos), ou seja, abraçar a verdadeira fé, o Islão; as mulheres devem dar à luz o maior número possível de crianças; estarem sempre prontos (não só os homens adultos, mas também as mulheres e as crianças) para entregar as suas vidas através do martírio, o que lhes confere o acesso directo ao paraíso. É por isso que é totalmente errado chamar os jihadistas de covardes, porque quem dá a vida voluntariamente não pode ser apelidado de covarde.
Os jihadistas (Al-Jihadiyun) são completamente intransigentes nas suas crenças, não reconhecendo uma religião diferente, uma opinião diferente, mesmo a dos muçulmanos que aceitam "apenas" os cinco pilares da fé. Os jihadistas não reconhecem definitivamente as relações internacionais existentes, porque, antes de mais, não reconhecem o Direito Internacional, no qual se baseiam as relações internacionais modernas. Para eles, a paz duradoura simplesmente não existe e, por conseguinte, não reconhecem nenhum tratado de paz. Só uma trégua pode ser concluída, porque só o doutrinário é admissível.
Nomeadamente, a Casa da Paz (Dar-el-Salam) só pode ser realizada através da Casa do Islão (Dar-el-Islam), desde que o mundo inteiro esteja fora da Casa da Guerra (Dar-el-Harb), porque a Jihad não reconhece a retirada ou o status quo, apenas a expansão (fatah). Consequentemente, o Direito Internacional, por razões doutrinárias fundamentais, não tem qualquer relevância, nem as relações internacionais actuais. Isto é, se o Direito Internacional fosse reconhecido, isso significaria que o direito dos "hereges" é hierarquicamente superior ao direito dos "fiéis", ou seja, que existe um direito que está acima da Sharia. Admitir algo assim seria uma blasfémia! É por isso que os jihadistas, mas infelizmente não apenas eles, não reconhecem a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 1948. É por isso que a Conferência Islâmica de Ministros dos Negócios Estrangeiros, em Agosto de 1990, no Cairo, adoptou a Declaração do Cairo, como uma "substituição" da Declaração Universal das Nações Unidas, a qual afirma que nenhum direito humano pode ser reconhecido fora ou acima da lei Sharia. Nessa época, a "Irmandade Muçulmana" teve uma grande influência, a qual lhe foi posteriormente retirada, especialmente no Egipto.
Para além disso, o Direito Internacional não pode ser reconhecido pois garante a existência de Estados fora da Casa do Islão, ou seja, de paz, e isso, claro, não é possível para os jihadistas. Eles não reconhecem nada que esteja fora do Islão e, portanto, destroem o património histórico e cultural não-islâmico, como é o caso do ataque ao Grande Museu Egípcio do Cairo, a explosão de esculturas centenárias de Buda no Afeganistão, a destruição de igrejas cristãs sérvias e mosteiros no "Kosovo", assim como o ataque terrorista à histórica missão católica em Cabo Delgado, em Moçambique.
No que diz respeito ao "Kosovo", os jihadistas celebraram uma dupla vitória: por um lado, provando que o Direito Internacional não tem qualquer valor, porque nem o Ocidente o respeita, e por outro, a sua vitória sobre solo europeu, o que foi celebrado com a criação do "Emirado do Kosovo". O que não é tão conhecido é que a NATO ajudou os mujahideens da al-Qaeda de Osama Bin Laden por via aérea (que lutaram na Bósnia e Herzegovina e no sul da Sérvia).
Já em 27 de Novembro de 1095 (41 anos após o Grande Cisma), a convite do imperador bizantino Alexios I Komnenos, o Papa Urbano II (proclamado santo) clamou pela unidade dos cristãos europeus na defesa contra os muçulmanos jihadistas, o que poderá ser considerado um prelúdio para a necessidade de criar uma União Europeia. Este pensamento foi posteriormente desenvolvido por Santo Alberto Magno e especialmente pelo Papa Leão X.
Os principais hotspots mundiais fazem fronteira com as linhas do território Dar-al-Harb: desde as Filipinas, Afeganistão, Paquistão, Chechénia, Irão, Azerbeijão, Arménia, Turquia, Chipre, Síria, Líbano, Israel, Egipto, Líbia, Argélia, Etiópia, Quénia, Sudão, Iémen, Nigéria, Moçambique... até à Bósnia e Herzegovina, a Macedónia do Norte e a província sérvia do Kosovo e Metohija, no sul. Estas linhas estão claramente delineadas no mapa mundial, sendo mesmo conspícuas. No entanto, há excepções: como os ataques jihadistas em Nova York, Londres, Paris..., porque os jihadistas não reconhecem nem a paz duradoura nem fronteiras permanentes.
Por último, é preciso ter sempre presente que a principal missão dos jihadistas é recuperar todas as antigas "fronteiras", que historicamente estavam incluídas no Dar-el-Islam, as quais abrangem, entre outros países, Portugal.
Oliver Antic, Embaixador da República Sérvia em Lisboa - Diário de Notícias 4-12-2020