Os presidentes de nenhum português
Rui Ramos - Observador de 28-7-2014
Até agora, a lista do “arco-da-governação” inclui dois comentadores televisivos, dois empregados de organizações internacionais e um ex-presidente de câmara. E sabendo que convém a um candidato a presidente ter algum passado, é curioso como todos, sem excepção, estão ligados aos fracassos, fugas e abstenções que marcaram a crise portuguesa do século XXI: dois demitiram-se do governo (Guterres e Barroso), um foi demitido (Santana) e dois nunca se demitiram nem foram demitidos porque sempre hesitaram e nunca se atreveram (Marcelo e Rio). (...)
Mais grave é a maneira como os pré-candidatos se parecem posicionar. Guterres e Barroso não falam. Mas Marcelo, Santana e Rio não se têm calado. O que é que aprendemos? Com Marcelo, nada, porque há muito é exímio na arte de dizer tudo sem se comprometer com nada. Mas Santana, perguntado sobre quais os melhores primeiros ministros dos últimos tempos, teve uma resposta edificante: Passos e Sócrates, cada um à sua maneira. Quanto a Rio, foi mais longe e decidiu fazer dupla com António Costa, que o tratou com a condescendência devida a um futuro parceiro menor de coligação. (...)
D. Manuel II foi o primeiro “rei de todos os portugueses”, fórmula com que pretendeu, desesperadamente, englobar os republicanos na monarquia. Alguém, na década de 1970, reciclou a ideia a favor do general Eanes, o “presidente de todos os portugueses”. Estes pré-candidatos parecem talhados para “presidentes de nenhum português”. Porque não se é presidente de todos os portugueses fingindo que não se está com ninguém.