Pais exemplares
Quero um filho que seja desejado.
Por isso, já fizemos um aborto
Pra que o rebento não nascesse torto,
Já que queremos tudo programado.
O meu filho nasceu, já estou cansado,
Não sei se vai chegar mesmo a bom porto,
Que o nosso ensino está mais do que morto.
Entrego-o aos avós (caso arrumado).
Sempre que o vejo, trago-lhe brinquedos,
Brinco com ele, acho-lhe muita graça,
Sem, contudo, entender bem os seus medos.
Nem entendo hoje, com pais desta raça
(A vida, sabem, tem destes segredos),
Por que é que o rapaz se meteu na passa.
Ponte de Sor, 5 de Novembro de 2005