Ser não sendo
É obviamente uma palermice formular sequer a hipótese de destruir o Padrão dos Descobrimentos por ser um símbolo do Império e dos Descobrimentos.
O que eram os Jerónimos há 150 anos? Uma ruína. E quem é que deu dignidade aos Jerónimos, requalificando o mosteiro com a construção da imponente Praça do Império? E quem é que levou a cabo a reconstrução de grande parte dos monumentos nacionais que há 150 anos estavam em ruínas?
Já vai sendo tempo de nos deixarmos de fantasias de Natal e de acreditar em histórias da Carochinha.
A história de Portugal, como todas as histórias, vai sendo sucessivamente reescrita de acordo com os interesses ideológicos em vigor em cada época, atribuindo-se motivações patrióticas a actos e acontecimentos levados a cabo por gente que nem sabiam o que isso era e que agiram, a maior parte das vezes, por interesse pessoal e por ganância.
Talvez já fosse tempo, como ensina Eduardo Manzano Moreno, professor de investigação do CSIC e na Academia Global Britânica da Universidade de St. Andrews, de "nos deixarmos de armar em astrólogos que decifram constelações nacionais com base no passado e passarmos a ser os astrónomos que escrutinam no universo do tempo os elementos que nos trouxeram até aqui. Talvez desta forma, fôssemos capazes de compreender que o que une as comunidades imaginárias do século XXI são os valores de solidariedade e igualdade que nunca passaram pela cabeça de nenhum dos nossos antepassados."
Santana-Maia Leonardo