Veneza, 16 de Abril de 1995 Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude de muito imaginar” (Luís de Camões, sonetos) Escrevo-te de Veneza Na mesa A caneta descansa Sobre a folha branca Do leito Onde te deito Minha mão Sobre o teu peito Feito De saudade e solidão Escrevo-te de Veneza Amor Na boca o calor Da tua boca presa E o sabor Constante Daquele voraz instante Escrevo-te de Veneza Amor
Ponte de Sor, 1995 De mim és Rainha Sem ser minha Distante No instante Em que te abraço Como um laço Que se aperta No vazio Não viu Essa seta certa O destino que a seguiu Do arco do teu olhar Tenho sede e tu o mar E só amar Devora o espaço Entre o teu corpo e o meu braço
Coimbra, 1978 [1] Dormes Entre lençóis de espuma Em quimeras azuis De um mar d' além Sonho-te Por entre as ondas brancas Com algas de esperança Nos cabelos (Do cais parti tão cedo Lendas de mar, amar e medo E a noite Que abarca E embala a barca Que nos prende E surpreende Aprende Que o dia já vem) ---------------------------------------------- [1] (...)
Santa Margarida, 1984 Passo a passo Fui subindo a colina Do fracasso Cada verso foi um passo Do Paço Que me destina Minha sina Peregrina De poeta está cumprida Camões de um só braço Do naufrágio salvo a vida
Santa Margarida, Março de 1984 Sentinela Na guarita Suspensa pela coronha (Ou guitarra à bandoleira?) Sonha Com moça bonita Debruçada da janela Herdeira Do sonho dela
Santa Margarida, Março de 1984 Filho adoptivo de Deus, Eu nasci do cruzamento Entre a maçã e a serpente. Da serpente fiz-me gente E da semente Os sonhos meus Traídos por Caim Na manhã do nascimento. Nas margens da Razão, Cresci assim... Sem nunca ter molhado o pé Nas frescas águas que são O firme chão da minha fé.
Santa Margarida, Fevereiro de 1984 [1] I Sou soldado em terra alheia Ergo com as pedras que piso o castelo do meu poder Sou o rei do teu destino e escravo do meu senhor Tenho um hino e uma bandeira que ecoa e que esvoaça sobre os destroços da proa dum navio abalroado Trago nas mãos esta sina de crescer como a semente enterrada por intrusos n (...)
Courelas, 3 de Dezembro de 1982 [1] pendant que tu dors je veille ton sommeil du sommet de ton corps ------------------------------------- [1] Publicado in Revista VÉRTICE, nº464/5, 1985
Courelas, 25 de Fevereiro de 1982 Parto a viagem começa na saída do túnel a partida num grito depois é a estrada antes do trilho um trilho feito estrada pelas minhas mãos (gastei as mãos (...)