Um país de corruptos e de minhocas
Pedro Sousa Carvalho - Público de 28-11-2014
Os portugueses são corruptos? Os nossos dirigentes e políticos são corruptos? São mais corruptos do que os corruptos dos outros países? O Eurobarómetro da Comissão Europeia diz que para 90% dos portugueses a corrupção é um fenómeno generalizado, uma das percentagens mais elevadas entre os 28. (...)
Não sei se somos um país muito ou pouco corrupto, mas nos últimos tempos onde a Justiça tem mexido sai uma minhoca (...)
Ainda ontem, a PJ fazia buscas na casa de Ricardo Salgado e de outros membros do clã Espírito Santo, num caso que envolve suspeitas de crimes de burla qualificada, abuso de confiança, falsificação de documentos, etc. Como se os casos BES, BCP, BPP e BNP não bastassem, ontem o jornal i também dava conta de que o presidente do Banco Finantia e mais uns quantos foram condenados pelo Banco de Portugal numa história que envolve alegada falsificação de contabilidade, offshores e prestação de informação falsa. Isto tudo na semana em que pela primeira vez na história da democracia portuguesa um ex-primeiro-ministro é detido, por suspeitas de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais.
A Justiça já não tem mãos a medir. (...)
São casos atrás de casos. E é caso para dizer cada cavadela, cada minhoca. As minhocas não apareceram hoje. Sempre tivemos corrupção. No futebol, nas autarquias, na construção, na política, etc. A Justiça é que se calhar está mais competente. Tem mais meios, há maior articulação entre a PJ e o Ministério Público, está mais bem preparada para combater crimes de maior complexidade, e, se calhar, tem mais vontade. Não muito longe vai o tempo em que procuradores do Ministério Público no caso Freeport argumentavam ter ficado sem tempo para fazer 27 perguntas ao primeiro-ministro.
Hoje, a Justiça parece estar a funcionar melhor. E não devemos ficar melindrados por elogiar a Justiça. Naturalmente que ficamos sempre de pé atrás. Como diz o ditado, gato escaldado tem medo de água fria. Mas a verdade é que temos assistindo a casos inéditos na Justiça que nos fazem pensar não numa decadência de regime, mas na sua regeneração. Por exemplo, o crime de tráfico de influências passou a fazer parte do nosso Código Penal desde 1995. É possível que até agora só Armando Vara e os amigos da Face Oculta tenham sido condenados à prisão pela prática deste crime? Como dizia Germano Marques da Silva ao Expresso,"o tráfico de influências não é mais do que uma cunha remunerada. E nós somos um país de cunhas”. (...)