Vergonha nacional
(...) Na literatura cristã medieval, é recorrente o apelo à formação moral do príncipe. Maquiavel subverteu a moralidade pública quando a subordinou a razões de eficácia política. Alguns dos estadistas contemporâneos parecem corresponder a este perfil, sobretudo quando, desprezando os valores morais, tudo reduzem à lógica do poder. Em nome do laicismo, desfizeram-se dos princípios cristãos, mas estes limites, embora entendidos como entraves confessionais ao exercício do poder, eram, afinal, as garantias que defendiam a sociedade da corrupção e da ambição dos aventureiros sem escrúpulos.
A arte da governação deve ser exercida em prol do bem comum e desempenhada por homens bons. Só quem, na sua vida pessoal e social, provou a sua idoneidade moral, deve obter, pelo sufrágio, a confiança do eleitorado. Como disse Francisco Sá Carneiro, «a política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha».
É excessivo o rigor puritano dos que, para destruir um possível candidato, são capazes de desenterrar uma sua insignificante veleidade pueril, há muito ultrapassada, mas paga-se cara a temeridade de eleger, para cargos públicos de grande responsabilidade, quem não deu suficientes provas de sabedoria, prudência e honestidade. Não basta calibrar a competência técnica dos políticos: há que avaliar principalmente o seu carácter moral. (...)